Wikisource, a biblioteca livre
O homem, nascido da mulher, É de poucos dias e cheio de inquietação.
Como flor nasce, e murcha; Como sombra foge, e não permanece.
Sobre um tal abres os teus olhos? A mim me fazes entrar em juízo contigo?
Oxalá que o puro pudesse sair do imundo! Não é possível.
Visto que os seus dias estão contados, o número dos seus meses nas tuas mãos, E lhe tens demarcado limites intransponíveis.
Aparta dele o teu rosto, para que descanse, Até que, qual jornaleiro, goze do seu dia.
A esperança para a árvore, sendo cortada, é que torne a brotar, E que não cessem os seus renovos.
Ainda que a sua raiz envelheça na terra, E o seu tronco morra no pó;
Contudo ao cheiro de água brotará, E lançará ramos como uma planta.
O homem, porém, morre, e fica prostrado; Expira o homem, e onde está?
Como as águas se retiram do mar, E o rio se esgota e seca;
Assim o homem se deita, e não se levanta: Enquanto existirem os céus, não acordará, Nem será despertado do seu sono.
Quem me dera que me escondesses no Cheol, Que me ocultasses até que a tua ira tenha passado, Que após um tempo determinado, te lembrasses de mim.
Se o homem morrer, acaso tornará a viver? Todos os dias da minha milícia esperaria eu, Até que viesse a minha dispensa.
Tu chamarias, e eu te responderia; Serias afeiçoado à obra das tuas mãos.
Agora, porém, contas os meus passos; Porventura não observas o meu pecado?
A minha transgressão está selada num saco, E guardas fechada a minha iniqüidade.
Mas o monte que se esboroa, desfaz-se, E a penha se remove do seu lugar;
As águas gastam as pedras, As suas inundações arrebatam o pó da terra: Assim fazes perecer a esperança do homem.
Prevaleces para sempre contra ele, e ele passa; Mudas o seu rosto e o despedes.
Seus filhos recebem honras, e ele não o sabe; São humilhados, mas ele nada percebe a respeito deles.
Somente para si mesmo sente dores a sua carne, E para si mesmo lamenta a sua alma.
