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Uma Tragédia no Amazonas/IX

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O episódio da tentativa de morte que acabamos de referir não teve por conseqüências senão provar que nada levantava um dique aos atentados dos criminosos, tão horrivelmente obstinados, e que também por seu lado o incansável defensor trabalhava na sua invejável missão, não apresentando-se, mas manifestando-se nos mais oportunos momentos por uma intervenção muito heróica, embora muito natural, sem contudo deixar se perceber através das sombras do incógnito, para talvez poupar-se aos agradecimentos de que era digno.

Estava inteiramente decidida a viagem para Manaus, todavia Eustáquio sentia, conquanto não o declarasse, profunda repugnância por esse passo.

E essa repugnância, aliás contrária ao seu modo de pensar de outrora, não era sem fundamentos.

Com grandes despesas conseguira ele edificar nos sertões do Amazonas uma morada perfeitamente confortável; nela se estabelecera depois de casado; e a ela vira chegar, em primeiro lugar Rosalina, entregue pela miséria e depois o seu primogênito, entregue pelo céu. Essa picada que agora se ostentava negra ao seu espírito exaltado fora o teatro da morte do seu querido servo e em época mais remota também vira passar o corpo inerte do seu sogro. Estas lembranças doces e lúgubres, aquele sacrifício parcial da sua fortuna na construção da casa, a amizade do padre Jorge e um desejo de vingança que vegetava no âmago do seu coração eram algemas que o ligavam àquele solo, e que doloroso não seria para ele rompê-las!

Se ao condenado das galés se oferecesse arrancar os grilhões levando com eles seus pés, por certo que não aceitaria embora a liberdade se lhe antolhasse risonha.

Outras não eram as condições de Eustáquio. Eis o que explicava a sua repugnância.

Esquecia-se talvez da prudência, da segurança dos seus, mas na sua vontade predominava o desejo de permanecer no seu posto, contentando-se provisoriamente com a defesa, deu-se porém um fato que fê-lo, se não tomar a posição ofensiva, ao menos dar mui enérgicas providências, impossibilitando a partida para fora de S. João do Príncipe.

Certa noite (a seguinte ao dia da tentativa de morte) dirigiu-se ele pensativo e triste ao seu quarto cuja porta abria-se para o corredor central da habitação.

No seu crânio se acumulavam atropeladamente legiões indisciplinadas de pensamentos e enquanto tentava organizá-las uma pequena cabeçada na porta lembrou-lhe a realidade.

Viu-se então no seu gabinete.

Apesar de simples possuía a câmara tudo o que se podia desejar por sua utilidade.

Duas janelas, das quais só uma estava aberta, delineavam-se na parede fronteira à porta.

Dessa mesma parede e de outra que a encontrava caía como um crescente uma rede, cujas franjas tremulavam ao frescor da noite, e aos pés da rede havia uma pequena mesa coberta de livros empilhados em cima da qual brilhava uma luz.

Colada a outra parede via-se uma cama coberta por uma colcha de florões coloridos mas desmaiados, leito habitual de Eustáquio, que, diferente dos outros habitantes do norte, gostava pouco de rede.

O marido de Branca assentou-se na rede do quarto a qual depois de duas oscilações ficou imóvel, ao menos tanto quanto Eustáquio, pois mergulhara-se este em uma dessas meditações insondáveis que paralisam o físico.

Sentia encher-se-lhe a boca de brados de ódio contra os seus cruéis perseguidores. Tinha lembrança de chamar em seu auxílio a polícia de Manaus, mas carecia de meios para isso. Acreditava na sua superexcitação que podia pela sua influência mandar exterminar os bandidos por todos os moradores de S. João do Príncipe, porém logo abandonava essa crença; e, encontrando alívio quando lhe vinha à memória o seu defensor desinteressado, dizia:

— Oh, homem querido, aparece! Quero te abraçar! agradecer!

Logo depois pensava na partida que o bem estar da família exigia. Rompiam-lhe dos lábios palavras que eram os coriscos da eletricidade do seu cérebro.

— Os infames, dizia, querem forçar-me a fugir... E donde! Da minha casa! Eu! Deixar o que me pertence, meus amigos, o meu teto, minhas recordações! Nunca! Mas, ah! Branca deseja partir... E tem razão... tem medo. Eu também já quis sair desta casa, pois estava aterrado. Acabei por mudar de resolução, porém Branca não mudou...

"Talvez me submeta a sua vontade, mas antes disso vou tentar uma cousa... Tenho um plano... Não conto, infelizmente com o inepto subdelegado; irei pois, só com os paraenses. Hei-de ir! Hei-de ir, e hei-de saber ao certo quem me persegue. Ah malvados!"

Ia-se tornando tarde, porém, Eustáquio não estava em si, não via as horas.

A sua meditação intercortada de frases já durara algum tempo. Ele ergueu-se e foi para a cama com a intenção de dormir. Conseguiu apenas deitar-se, levantando-se logo a retomar na rede o seu primitivo lugar.

Aí, com as mãos cruzadas sustentando a testa e com os cotovelos enterrados nos joelhos, permaneceu ainda.

Deu-se então uma circunstância mui importante, que o marido de Branca teria notado se a sua atenção não se achasse tão longe do seu quarto.

Acima do parapeito de janela aberta, que se alargava no fundo como uma tela negra, apareceu a extremidade de uma vara e quase imediatamente desceu.

Mais ou menos às cinco horas da madrugada principiou o dia a despontar. Eustáquio, sem mesmo saber como passara a noite, chegou-se à janela.

A vidraça estava suspensa, ele inclinou-se para respirar as exalações do prado.

Viu a estrela d'alva cintilando um pouco por sobre a montanha, cuja base jazia ainda nas trevas, e aos últimos clarões da vela que já desaparecia, vacilando no orifício do castiçal, reunidos à luz lívida e fraca que começava a se espalhar pela planície, distinguiu um pedacinho de papel sobre a janela.

Estava umedecido pelo orvalho e Eustáquio querendo retirá-lo rasgou-o em dous.

O ex-subdelegado, que não dera ao papel grande atenção, viu logo algumas letras e ligando as duas porções leu este aviso, laconicamente amedrontador:

Sentido! Ides ser atacado seriamente.

Um amigo.

— Ainda o meu defensor! exclamou Eustáquio, é ele quem me dá uma notícia. Porém o que ele diz é incrível!

Releu cuidadosamente o aviso e voltando-se para a janela gritou:

— Por quem és, ente das sombras, apresenta-te, que te quero entregar a minha vida em recompensa da tua dedicação!

Mas quem depositara o papel sobre a janela já ia longe. Branca que ouvira as vozes do marido já estava no quarto e perguntava:

— Que papel é esse?

Eustáquio escondendo o papel olhou espantado para a mulher e só depois de alguns momentos disse:

— Não é nenhum escrito importante.

— Não creio, quero ver, tornou Branca, aproximando-se do marido.

— Eu não lhe queria revelar, mas se o exige, leia, terminou Eustáquio entregando a Branca os dous pedaços de papel.

A moça, naturalmente medrosa empalideceu à vista do aviso e não pôde deixar de perguntar quem o entregara.

— Que homem benfazejo! disse, quando obteve resposta.

Pouco depois ouviu Eustáquio dizer-lhe:

— Branca, é impossível partirmos já, porque nem há embarcações agora, no povoado, mas hoje à noute eu irei examinar essas matas a fim de tirar as onças do esconderijo...

— Não, eu não consinto! gritou ela, não deixarei você arriscar a vida inutilmente.

— Inutilmente! Então você acaba de ler o aviso e não vê que estamos em perigo! Quer que morramos todos? Eu irei e hei de ser prudente.

— Ah! Vá, mas eu ficarei tremendo.

— Tenha paciência, minha Branca, é a única cousa que posso fazer. Ir atacar antes de ser atacado.

Retirou-se Branca deixando Eustáquio a ruminar o plano da exploração.

Pelas três horas da tarde o tempo mudou. Uma poeirinha líquida começou a cair.

— O tempo é o mais propício possível para a minha expedição, observou Eustáquio.

— Ou para nos virem atacar, acrescentou Branca.

Rosalina já soubera das intenções do seu protetor assim como do aviso que lhe chegara às mãos, porém não sentira por si, a menor emoção.

Tinha a alma familiarizada com a desventura, nada temia. A desgraça é como tudo neste mundo, tantas vezes a vemos que finalmente já não nos impressiona. Rosalina a vira em toda a sua fealdade.

A jovem que viera do povoado acabava de voltar para lá, porque o ex-subdelegado, julgando-se em vésperas de partir a despedira.

E o filhinho de Branca agitava-se contente no fundo do berço.

Apenas findou-se o dia, o subdelegado dispôs-se para a excursão.

Escolhera a noite para o proteger com suas sombras visto que a lua em minguante só mui tarde devia nascer.

Depois de armar convenientemente os seus homens e de se agasalhar contra a umidade da noite, abraçou a Branca, fez estalar um beijo na testa de sua protegida, beijou ainda o menino seu filho e saiu.

Quatro lágrimas brilharam-lhe nas extremidades dos olhos.

Entregou a Ruperto a guarda da casa, partindo logo que viu fechar-se atrás de si a sólida porteira do cercado exterior.

Caminharam os exploradores dois minutos por cima de ervas e arbustos que lhes molharam as calças, penetrando em seguida em um bosque difícil de trilhar, graças ao emaranhado de trepadeiras e cipós, juntamente com as moutas densas que as facas cortavam desapiedadamente.

O caminho difícil cessou quando os primeiros declives da montanha se fizeram sentir. Estavam os homens bastante arredados do Iapurá, sem ainda ter encontrado o menor vestígio dos malfeitores.

Viram-se, não é o termo, sentiram-se em uma espécie de caminho que não parecia aberto pela natureza.

— Estamos em uma picada, notou o paraense que seguia, na frente.

— Que talvez nos leve ao nosso destino, disse outro.

Estas palavras trocadas em voz baixa foram as primeiras. Reinava a mais completa escuridão na mata que Eustáquio percorria.

Os seus companheiros, como cegos, apalpavam o caminho com a coronha das espingardas e andavam devagar. A expedição era ousada e seria impossível se a floresta não fosse mais ou menos conhecida pelos paraenses.

Eles caminhavam. Para onde? Não sabiam. O que esperavam? Tudo. Estavam preparados para fazer frente aos inimigos. Que inimigos?

Eles não conheciam.

Debaixo dos seus passos fugiam reptis, bruscamente despertados, e uma vez puderam ouvir a pouca distância o grito rouco de uma onça, que acelerou-lhes as palpitações do coração fazendo que armassem as espingardas.

A intenção de Eustáquio era reconhecer o abrigo dos seus perseguidores e dar-lhes combate se fosse possível, não queria porém que fosse conhecida a sua presença na floresta, por essa razão temia alguma luta com feras.

Deram mais alguns passos, mas pararam logo, prestando atenção a um murmúrio indeciso, que não vinha do alto da montanha, porém, ao contrário, da planície, e não podia ser portanto o ruído de um acampamento de índios, que só existiam do outro lado das colinas.

— Serão eles? murmurou Eustáquio.

— Quem sabe? respondeu-lhe um homem.

O marido de Branca e seus homens já se tinham voltado e examinavam as matas que se estendiam um pouco abaixo deles.

Nada viram.

Retomaram o caminho que tinham já atravessado e principiaram a descer a ladeira que levava ao cimo da pequena montanha.

Examinaram de novo a floresta. Do lado direito cousa alguma distinguiram senão as trevas da noite, na frente ainda nada, mas à sua esquerda avistaram ao longe, nas profundezas do bosque, um clarão vermelho.

Eustáquio apontou para esse lugar e exclamou:

— Lá estão os assassinos!

Tinha na voz uma entonação de ódio.

Abandonando a picada, os exploradores seguiram em linha reta para o clarão. A lama do chão molhado atolava-os até acima dos joelhos, os espinhos abriam rasgões nas calças e nos capotes chegando mesmo a feri-los, contudo eles avançavam com indomável frenesi. Encontraram nova vereda e continuaram. Percebiam melhor o clarão. Era uma fogueira que brilhava sob a folhagem e o ruído que se ouvia proveniente de seu crepitar.

Já próximos da fogueira, eles pararam. Estavam vacilantes, não por medo, porque o seu ânimo não conhecia medo, porém por essa emoção que sente o soldado antes do combate e que invade o espírito mesmo do herói, a qual se transforma logo em ardor e lhe dá a coragem que não vê perigos.

O marido de Branca, aproveitando-se da luz vermelha e fraca que vinha da fogueira, viu no relógio que eram quase dez horas. A conselho de um dos paraenses, deixaram todos o caminho para adiantarem-se de rastos pelo mato. Esta manobra, habilmente executada, levou-os até o fogacho que via-se cintilar através das folhas... Espessa massa de arbustos veio ocultar-lhes inteiramente o fogo. Nada podiam mais ver, embora ouvissem perfeitamente o estalo das madeiras que ardiam.

Aí mesmo elevava-se, retorcendo-se em amplas rugas o tronco enorme de uma gigantesca castanheira, que se esgaIhava no alto. Essa árvore lembrou a Eustáquio a idéia de subir a ela, para, de cima, observar melhor o que se passava embaixo.

Assim, sendo posta em execução a idéia, subiram todos auxiliando-se uns aos outros.

Um galho, que se inclinava horizontalmente por sobre a fogueira. levou-os a um ponto de observação. Outro melhor não podiam achar.

Ramos frondosos os encobriam por todos os lados e através desses ramos podiam facilmente ver tudo, não obstante o calor que aí chegava e as lufadas de denso fumo, que por vezes se enovelavam nas folhas.

Abaixo deles formava-se uma espaçosa clareira, no meio da qual uma grande fogueira carbonizava estrepitosamente alguns troncos. As chamas intensas inundavam-na de rubros eflúvios, que transformavam os troncos vizinhos em barras de ferro em brasa e, do meio delas, subiam fagulhas luminosas que se apagavam no alto ao tocar nas folhas.

O zimbório de folhas úmidas, refletindo os infernais clarões do fogo, coroava dignamente um painel sinistro. Ao lado da fogueira viam-se dous negros, cujas faces lustrosas recebiam em cheio a sua luz, que as cobria das mais horríveis cores.

Um deles permanecia em pé, com os braços cruzados sobre o cano de uma espingarda, e olhava inalteravelmente para o outro que, assentado, revelava pelo balancear da cabeça os sinais de uma luta entre a vigília e o sono. Mais longe, como os mortos no campo de batalha, estavam estendidos outros homens nas mais variadas posições. Tinham todos o corpo envolto em capas e pareciam dormir profundamente.

O que estava de pé curvou-se e bateu brutalmente no ombro do companheiro, exclamando:

— Dormes! Se dormes, encarregado da vigília, o que farás, encarregado da vingança?

Desperta e vem fazer-me companhia.

O negro que fora tão estouvadamente despertado levantou a cabeça, perguntando, com os olhos meio fechados:

— O que é que quer?

O mais moço vendo que o companheiro não estava disposto a se levantar, largou no chão a espingarda e segurando-lhe os ombros, sacudiu-o com toda a força. As sacudidelas tiveram bom efeito, pois o mais velho pôs-se de pé e, estendendo os braços acima da cabeça, curvou-se para traz como que se desentorpecendo. Em breve viu-se tão acordado como o mais moço e ambos fizeram uma volta pela clareira, atirando lascas de pau sobre as brasas.

As labaredas cresceram de tal modo que Eustáquio quase foi forçado a deixar o seu posto de observação. O calor já era intolerável, os exploradores suavam por todos os poros, mas, algumas palavras que então ouviram os decidiram a não abandonar o lugar nem que as chamas os atingissem. O assunto da conversação dos negros justificou-lhes a curiosidade.

— Então, José, disse o mais velho, você me falou ainda agora na vingança de amanhã, mas não disse a que horas devemos atacar a casa.

— Oh não sabes? Isto é demais!

— Por que?

— Porque não há aqui quem ignore, devias saber.

— Mas não sei. Diga-me, se quer.

— É de manhã bem cedo. Sabes agora?

— Muito cedo mesmo?... assim não terei tempo de dormir.

— Cala a boca, rei das preguiças! Só cuidas em dormir. Pois hás de estar pronto a qualquer hora, senão... Olhe.

O negro acabou a frase batendo com os dedos no cabo de uma faca que trazia à cinta.

— Ah! Pois você meu filho!...

— Aqui não há filho nem pai, há vingadores!

— Meu José, você fala em vingadores como se lhes houvessem feito mal.

— Como! Não me fizeram mal! Então aquela prisão?... os maus tratos?...

— Ora! Ora! No tempo em que o açoute lhe rasgava a pele, você só pedia perdão, e agora está aí com delicadezas.

— Eh! Não te lembras de eu ter dito que pedia perdão só para ganhar a ocasião de dar no senhor a foiçada com que o mandei para o inferno noutro dia?

— Lembro-me, lembro-me!... Como era você fingido! Apre!...

— Pai!

— Meu filho, eu, que te vi de joelhos diante do senhor, que te vi depois de fouce erguida, não te julgarei hipócrita, fraco diante do forte e forte diante do fraco?!

— Cala-te! gritou o miserável negro desembainhando a faca e brandindo-a sobre a cabeça do pai.

— Perdão, José! Perdoe-me! exclamou o velho segurando o pulso do assassino.

— Perdôo-te, mas deixa-te de censuras! Não quiseste matar o senhor, mas te aproveitaste do que os outros fizeram.

— Ah! o cativeiro! o cativeiro!...

— Pois, se temes o cativeiro, hás de fazer o que quisermos. Hás de acordar-te ao romper do dia, hás de matar gente, hás de ajudar-nos a agarrar a tal pequerrucha... Isto é amanhã, depois... veremos.

Eustáquio e os seus companheiros, possuídos de indignação contra o perverso, mal se continham.

— Qual será a gente que eles pretendem matar? Quem será a tal pequerrucha? perguntou o esposo de Branca, de si para si.

Meditou um pouco e, com as pálpebras úmidas, interrogou o céu, que as folhas deixavam entrever-se.

Os paraenses mordiam os lábios e fechavam os punhos apertando as armas.

Um deles, até em um desses movimentos convulsivos, calcou o gatilho e desarmou a espingarda.

Teria soado uma detonação, se a espoleta não houvesse felizmente caído. Todavia ouviu-se um forte estalido.

— Quem anda lá por cima? gritou o negro mais moço. Os exploradores sentiram calafrios.

Estavam descobertos, e talvez perdidos, porque, logo que o negro gritou, um homem branco que dormia se agitou, atirou a capa para um lado e ergueu-se, perguntando:

— O que temos? Hein, José!

O escravo, poucos segundos antes tão altivo e insolente, tornou-se humilde e, com os olhos baixos, respondeu a meia voz:

— Ouvi um ruído ali por cima.

— Hás de verificar o que foi, continuou o que se despertara, num tom imperioso. Mas, antes disso... Já me ia esquecendo... Tu és o encarregado de arrebatar a minha pequenita.

— Sim senhor, sim senhor, respondeu apressadamente José.

— A velhaquinha, prosseguiu o homem branco, corno que falando consigo, escapou na picada e livrou-se do tratante que me quis pregar uma peça, mas não me escapará desta vez.

Os exploradores tiveram ímpetos de se precipitarem da árvore a estrangular o malvado.

O marido de Branca conheceu a excitação dos seus homens, e além disso, viu que os dois negros saíam da clareira para revistar as árvores, viu que era urgente tocar a retirada.

A retirada não era fácil. Os dous negros mostravam disposições de galgar a castanheira. Felizmente, a um sopro do vento, as chamas se ativaram, crepitando estrondosamente, e uma nuvem de grossa fumaça os envolveu protegendo os exploradores da vista dos bandidos.

Assim ocultos, puderam da castanheira passar a outra árvore e, descendo corajosamente alcançaram o chão.