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Vida do Padre José de Anchieta/III/VIII

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No tempo da guerra dos tamoios, contra a capitania de São Vicente, viviam nela duas irmãs casadas, uma na vila e outra no campo. Esta foi à casa da irmã ajudar-lhe a fazer uns rolos delgados de cerca da terra, e, entre rolos, fez duas velas mais grossas. E repreendendo-a sua irmã que lhe gastava a cerca, disse ela: “estas velas faço para o Padre José me dizer missa com elas, quando eu for santa”.

Daí a dias deram os inimigos um assalto na capitania, onde levaram algumas pessoas, e a esta mulher entre os mais, que foi entregue a um principal, mas nunca quis consentir com ele, gritando: “sou cristã e sou casada”. E isto por tantas vezes que o bárbaro, dando-se por afrontado, a matou por esta causa em terreiro, que é como em alto público e judicial, com uma morte cruel e afrontosa.

Uma mártir pela castidade. Diz missa dela.

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E na mesma manhã, que esta ditosa mulher triunfou do bárbaro cruel e desonesto, foi o Padre José pedir as velas à outra irmã, e disse missa com elas, não de requiem, mas de uma mártir, nomeando-a por seu nome; havendo distância, entre são Vicente onde o padre estava, e o lugar onde ela foi martirizada de setenta léguas.

Soube o padre provincial Manuel da Nóbrega do caso, e perguntou-lhe diante dos padres que mártir era aquela, de que dissera missa. Respondeu que era fulana que em tal hora entrou no céu, mártir pela castidade. E daí a alguns dias, vindo homens que no salto foram tomados com ela, contaram cada um por si esta morte da mesma maneira.

Este caso contou por vezes o Padre José, e o relataram o Padre Vicente Rodrigues, e o Irmão João de Sousa neste Colégio da Bahia, que se achavam na casa de são Vicente, no ano de mil quinhentos e sessenta e oito. De outras duas mártir se fez menção que morreram pela castidade, no livro I, capítulo 6º, infine.

Diz missa por um nosso padre que aquela noite faleceu em Itália

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Na mesma casa de São Vicente, disse o Padre José missa de requiem, dia de São João Evangelista, a Segunda oitava do Natal.

Perguntou-lhe o Padre Manuel da Nóbrega, diante de alguns de casa, como deixaria a missa de tão grande Santo por uma de requiem, a fim de que o caso fosse manifesto para glória de Deus. Respondeu que dissera por um padre da Companhia, que fora seu condiscípulo e amigo, sendo estudantes em Coimbra, que aquela madrugada, dera sua alma a Deus no nosso Colégio do Loreto, em Itália. Acudiu o Padre Nóbrega: “que é feito agora dele?” Respondeu: “já saiu do purgatório, quando levantei a Hóstia a Segunda vez”.

Este caso contou o Padre Vicente Rodrigues, que estava em São Vicente. Dizem que há, de São Vicente a Lisboa distância de mais de mil léguas, e de Lisboa a Roma mais de quatrocentas, mas entre Deus e seus servos, não há nenhuma.

Do forte da Capitania do Espírito Santo

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Na Capitania do Espírito Santo, contou ao Padre Jácome Monteiro, Maria Alves, dona viúva, que estando ela muito doente e desconfiada de sua vida, de seu pai e mãe, a fora visitar o Padre José, e lhe dissera que não havia de morrer daquela. E ainda hoje é viva.

Ao mesmo padre contou um mancebo, por nome Fulano Godinho, que quando se fazia o forte que está da banda vila, dissera o Padre José aos moradores, que não tomassem mal o trabalho de o fazer, porque cedo haviam de vir ingleses, como vieram. E posto que no princípio fizeram algum dano, contudo tanto que chegou o socorro dos índios das aldeias, largaram tudo e se acolheram com as mãos nos cabelos, deixando alguns as armas e muitos a vida.

E isto sucedeu governando a Capitania Dona Luisa Grimalda, mulher que fora de Vasco Fernandes Coutinho, com o Capitão Adjunto Miguel de Azeredo.