Horto (1910)/A Eugenia
Aspeto
A EUGENIA
Imagem santa, que entrevejo em sonho
Sempre, sempre a cantar,
Creatura innocente, anjo risonho,
Que me ensinaste a amar!
Meu doce amor! Calhandra maviosa
Que canta dentro em mim;
Minha esperança timida e formosa,
Meu sonho de marfim!
Amarantho do Céo, flor encantada,
Mimoso colibri;
Minha açucena pallida e maguada,
Meu niveo bogary;
Gotta de orvalho a tremular n’um lirio
Que mal começa a abrir;
O’ tu que apagas meu cruel martyrio
E que me fazes rir;
Madresilva entreaberta, lyra de ouro,
Celeste beija-flôr;
Minha camelia, meu sorriso louro,
Amor de meu amor;
Guarda estes versos que só dizem magua
E tristezas sem fim...
Deixa-os no seio como a gotta d’agua
No calix de um jasmim...