A Alma do Lázaro/II/VI
Esses dias tenho levado a escrever o meu livro.
Dei-lhe um título bem mesquinho para os outros, que não lhe sabem a significação; mas bem gentil e, sobretudo, bem verdadeiro para mim.
Chamei-o: Livro das Histórias que me Contou Minha Mãe.
Tenho delas acabada a primeira. É a história de D. Maria de Sousa. Também ela foi mãe e sofreu por seus filhos; também ela foi grande pelo heroísmo, e forte pela constância.
Mas como tu que vinte anos acompanhaste a tortura incessante daquele que geraste para tua pena, sem nunca soltar uma queixa; como tu, não quero que tenha existido ou possa existir outra mãe.
Pesa-me que não estejas aqui ouvindo-me para ler-te o meu livro! Acho-o melhor do que nunca esperei de mim. Acho-o bonito. Tem alguma cousa daquela singeleza dos teus contos.
Mas que estou eu dizendo?... Tu me ouves! Tu leste no meu espírito, muito antes que as palavras se formassem, e que a pena as lançasse no papel!