A Alma do Lázaro/II/XXI
Meu Deus! Meu Deus! Dai-me força para resistir-me, pois ma destes para sofrer este suplício atroz.
Ela, Úrsula, me conhece!
Esta noite, quando me esquecia a contemplá-la, seguro de mim, vi-a acenar com a mão, como se me chamasse! Duvidei que me pudesse ter descoberto ou sequer pressentido. Mas ela insistiu, e como não lhe obedecesse, enfadou-se.
O que se passou em mim, e qual poder oculto dominou meu ser, que sem vontade, nem consciência, atirou-me de joelhos em face do terrado, com as mãos súplices e a fronte abatida, implorando com paixão para a minha infinda angústia?
Esteve Úrsula algum tempo a olhar-me, entre surpresa e aflita. Mas por fim ajoelhou também, erguendo as mãos ao céu, e eu ouvi o sussurro da sua prece.
Era por mim que rezava?
Não ouso crer. Depois que te partiste, mãe, lá na mansão em que habitas, acaso viste subir a Deus uma súplica, uma só, por este desgraçado?...