A Luneta Mágica/II/XL
Ainda conservava fixada a minha luneta mágica no ponto donde me fugira o rato, quando senti rumor de pessoas que vinham subindo a escada do sótão e ouvi distintamente a voz do médico.
O meu primeiro cuidado foi imediatamente esconder a luneta do mesmo modo que antes fizera, e em seguida fechei os olhos e fingi que dormia tranqüilo sono.
Era meu intento, fingindo-me adormecido, ouvir as observações do médico e dos meus três ruins parentes para saber o que devia esperar e temer, e como me cumpriria, ou me conviria proceder.
Confesso que foi grande atrevimento meu querer iludir o médico com um sono falso; contei porém a ligeireza habitual dos exames de muitos desses doutores que, depois do primeiro e esmerilhado estudo do doente, supõem governar a natureza e a moléstia, e dão a cada uma de suas visitas a duração de— cinco minutos por cerimônia.
Desconfio que a visão do mal tem me tornado mordaz; mas os homens merecem ser tratados assim.