A Luneta Mágica/II/XLVIII

Wikisource, a biblioteca livre


E de que me serve mais esta luneta fatal?...

Ela já me fez conhecer a sobras o mundo e os homens. Doravante nada mais pode ensinar-me que seja novo para mim.

Se ma arrancarem, se a quebrarem, ficarei em todo caso com a ciência que ela me deu;

Que a quebrem pois! Pouco importa.

O que me apavora é a incerteza e o medo dos transes, a que tenho de sujeitar-me.

Se ao menos eu soubesse, se eu pudesse prever o que se projeta, se planeja, e se realizará contra mim amanhã... de hoje a três dias, daqui a um mês ou mais tarde...

Se eu pudesse acabar de uma vez com esta incerteza que é o pior dos martírios...

Oh! . . .

O armênio me proibiu fixar a luneta mágica por mais de treze minutos, sobre o mesmo objeto, porque além de treze minutos começaria a visão do futuro.

A visão do futuro! . . . é a que eu aspiro, o que ardentemente agora desejo.

É verdade que o armênio também me assegurou que a visão do futuro me era negada, e que a luneta magica se quebraria entre meus dedos, se eu a fixasse sobre o mesmo objeto por mais de treze minutos.

Mas quem sabe se o armênio procurou enganar-me?... Quem me diz que ele não inventou esse meio, que não empregou essa proibição dolosa para impedir que eu chegasse até a visão do futuro e dela me aproveitasse?...

A visão do futuro me daria poder igual ao do mais abalizado mágico; com ela eu seria igual ao armênio...

Diz-me o coração que o armênio quis enganar-me, e que eu posso ter a visão do futuro; e por ela igualá-lo na extensão do poder mágico.

Quero fazer a experiência. Que me pode acontecer de pior?... quebrar-se a luneta entre os meus dedos... ora! . . . e sem a visão do futuro, de que, para que mais me serve esta luneta?...