A Luneta Mágica/II/XXIV
Nos dois seguintes dias teimei em aparecer ao público e experimentei iguais testemunhas de geral condenação.
Nas ruas e praças fui cem vezes apupado.
Na tarde de um desses dias tentei ir passear a Niterói; mas a minha entrada na ponte da companhia Ferry, produziu um movimento ameaçador entre os passageiros, e eu tive logo de sair da ponte ao ouvir algumas vozes sinistras que repetiram: "deitá-lo-emos ao mar!"
Em um hotel negaram-se a dar-me o jantar que pedi.
O cocheiro de um carro da praça não quis acudir ao meu chamado.
E ninguém mais fugia de mim, porque todos me espantavam com ameaças.
No terceiro dia fiquei encerrado em casa; mas à noite fui a um aparatoso baile, para o qual estava desde algumas semanas convidado.
Era uma brilhante festa dada em aplauso e honra de um casamento com ardor desejado, e com júbilo abençoado pelas famílias dos noivos.
Apenas apareci foi extraordinária a agitação que se sentiu na sala cheia de convidados, as senhoras encheram-se de terror, e cobriram os rostos com os leques e os lenços, a noiva esteve a ponto de desmaiar; os homens deixaram-me perceber pragas que a cortesia, e o respeito à sociedade onde estavam, abafavam; o dono da casa três vezes encaminhou-se para mim e outras tantas recuou confuso e com evidentes sinais de contrariedade; eu o compreendi, e poupando-lhe o amargor de uma despedida formal, fiz o que me cumpria: fugi desesperado, chorando de raiva, e cada vez mais convencido da malvadeza de toda a humanidade.