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A Luneta Mágica/IV/II

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Acabado o almoço, e depois de abraçado e ardentemente felicitado pelos meus três parentes, de quem ainda continuava a desconfiar muito, voltei ao meu quarto com a alma repleta de consolação, de alegria, e de entusiasmo.

Creio que entrei no meu quarto, saltando jubiloso, como um candidato da oposição que se vê eleito deputado depois de uma dissolução da câmara temporária, ou como um mancebo namorado que após resistências cruéis da família da amada, recebe a decisão ditosa, que lhe dá as glórias de noivo.

Beijei mil vezes a minha luneta mágica e mil vezes jurei que seria acautelado e prudente, que me contentaria com a visão das aparências e que nunca iria além de três minutos procurar a visão do bem.

Entretanto a visão do bem era uma coisa que não podia fazer mal! . . .

Esta idéia já havia entrado por mais de uma vez no meu espírito: ver o bem! eu tinha sofrido tanto, vendo em tudo, em todos, e por toda parte o mal, que ver o bem poderia ser uma agradável compensação, uma profunda consolação para mim...

Mas eu jurara a mim mesmo obedecer fielmente aos conselhos do armênio, e portanto venci, esmaguei o meu desejo de ver o bem.

Hei de, protesto que hei de contentar-me com a visão das aparências: é duro, é triste o privar-me da visão do bem; não a quero porém; juro que não me exporei a essa visão que o armênio reputa inconveniente.

A visão do bem deve ser deliciosa! mas não a quero; não sou criança louca; sou homem de juízo, e de força de vontade: não quero, não terei a visão do bem.