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Castelo Perigoso/VIII

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Capítulo VIIIº – Da ira e diversas espécies dela

Por ira peca homem em muitas maneiras. Isto sabem bem os bravos, que têm ódios em seus corações longamente dizendo más palavras a seus próximos, e juram e dizem de Deus e de seus santos palavras vilãs, a qual coisa não pertence a religioso. E quem por ira ou ódio deixa de comer e beber ou ir ao mosteiro ou fazer outro bem, e quem atira sua palavra a outrem, estes são todos muito grandes pecados, e muitos aí há de outros.

Por ira homem jura e perjura e maldiz e fere e mata. Quem, por ira, assanha seu próximo, deve lhe pedir mercê antes do sol posto, segundo diz a Escritura. Por ira alguns caem em desesperação ou tornam sandeus, e isto é danação perdurável. Este pecado vem de inveja, assim como inveja vem de soberba, que quando o invejoso vê que não pode vir a sua intenção contra aquele de que há inveja, logo cai em tristeza, desde aí em preguiça, que quando homem está triste não há prazer em coisa que faça nem diga. Quem serve Deus com tristeza, logo entra em preguiça.