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Ciganinha/IV

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Uma vez, com as suas facilidade, que tanto a desacreditavam, correr Gêgéca sério perigo, bem sério.

Como era natural, não tardou o José Bispo, da venda, a querer engraçar-se com ella e desejal-a com a impetuosidade do seu genio atabalhoado, despotico, irascivel, mettendo medo a todo o mundo e cheio de grandezas e valentias no meio d

Aquella arraia miuda.

Por cima, inspector do quarteirão, embora não se tivesse naturalisado cidadão brasileiro.

De cada vez que a Ciganinha lá ia comprar alguma cousa, um cobre de vinagre, meio tostão de azeite, um salamim de arroz, contava-lhe historias, fazia-lhe mil promessas.

— Deixa-se de partes, Sr. Portuga, repellia-o Gêgéca; não se faça de tolo, estou com pressa...

— Mas, Ciganinha...

— Limpe os beiços, Sr. Pé de chumbo. Ande; que não vim cá para atural-o..

E assim era sempre.

Ora, como tudo isso ocorria á vista de todos, apinhada a venda de ociosos, tropeiros, creanças, fadistas, não raro havia troça á custa do tal José Bispo.

— Assim, rapariga, applaudiam. Dê-lhe para baixo até mais não poder.

E se derretiam em caquinadas de chufa.

O homem bufava; procurava com esforço conter-se, mostrar frieza e desdem, mas qual!

De cada vez que a Gêgéca reapparecida na immunda tasca, afigurava-se-lhe que aquillo tudo se mudava em palacio encantado, n’um esplendor de cegar.

E a fadasinha, cada vez mais formosa, galhofeira e petulante, a ludibrial-o sem dó nem receio algum.