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Dicionário de Cultura Básica/Bandeira

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BANDEIRA (poeta lírico brasileiro) → Modernismo

Fui ao Museu de Arte Moderna,
À exposição dos neoconcretos.
Motivos por demais secretos
Poderão construir obra eterna?

Manuel Bandeira (1886–1968) é um dos maiores poetas do movimento modernista brasileiro, aceitando a revolução estética, mas sempre com olho crítico. Pernambucano de origem, viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, com estadias temporárias na Europa, especialmente na Suíça, onde era costume tratar sua tuberculose. Exerceu a profissão de docente de Literatura, de jornalista, de crítico de artes e de tradutor, vertendo para o português obras de García Lorca, Rilke, Shakespeare, entre outros autores estrangeiros. Após os poemas juvenis de A cinza das horas, em que se percebe sua ligação com a tradição poética do Simbolismo decadentista do início do século XX, com a coletânea Carnaval, seguida de O ritmo dissoluto e Libertinagem, inicia um novo ciclo poético impregnado do espírito "dionisíaco". Em quase todos os poemas dessa fase, especialmente da série Carnaval, através da descrição das formas e dos sentidos das várias máscaras do carnaval brasileiro ("A canção das lágrimas de Pierrot", ‘‘Pierrot branco’’, ‘‘Arlequinada", ‘‘Pierrot místico’’, ‘‘Pierrete’’, "Rondó de Colombina", "O descante de Arlequim", "A morte de Pã", "Sonho de uma terça-feira gorda", "Poema de uma Quarta-Feira de Cinzas"), percebe-se uma linha isotópica centrada sobre a exaltação do Carnaval, momento de subversão dos valores éticos. São cantos que enaltecem os anseios individuais, as forças vitais do ser humano, em contraste com os valores ideológicos impostos pelas normas do viver social. De Libertinagem, destacamos o conhecido poema "Vou-me embora pra Pasárgada". O nome Pasárgada foi extraído da Ciropédia, do historiador grego Xenofonte, para materializar um espaço utópico onde o poeta pudesse realizar os desejos mais recônditos da sua alma. Seguem-se as coletâneas Estrela da manhã, Lira dos cinqüent’anos, Belo belo, Opus 10, Estrela da tarde, Mafuâ do malungo. A modernidade de Manuel Bandeira reside não tanto nas inovações de ordem estilística (abandono das formas poemáticas tradicionais, verso livre, ensaios de poemas concretos), quanto em sua temática inspirada nas coisas humildes ou desconcertantes da vida prosaica e na sua postura ideológica, marcadamente contestatória, em que predominam os motivos da revolta do ser humano, esmagado pela sociedade industrializada e comercializada.