Dicionário de Cultura Básica/Cícero
CÍCERO (erudito latino, "cicerone")
Marcus Tullius Cícero (106–43 a.C.), muito embora não possa ser considerado um poeta, visto que não escreveu nenhuma obra de ficção, ele é o maior escritor em língua latina pela variedade e quantidade de suas obras. De família aristocrática, estudou em Roma filosofia, eloqüência, direito e poesia com os melhores mestres da época. Depois de ter aperfeiçoado sua cultura na Grécia, voltou para Roma e iniciou a sua carreira de advogado e de político. Por ter descoberto a conjuração do democrata Catilina contra o regime aristocrático vigente, foi chamado de "Pai da Pátria". Mas, por pertencer à oligarquia dominante e por estar sempre defendendo os direitos dos senadores, durante o primeiro Triunvirato (ano 60 a.C.) de César, Pompeu e Crasso, caiu na ira dos democratas que o exilaram e lhe confiscaram os bens. Após um ano de exílio, a luta civil entre César e Pompeu possibilitou seu retorno a Roma e a retomada de sua atividade de advogado e de escritor. A sua produção literária é imensa. Os estudiosos costumam dividir as obras de Cícero em quatro grupos: 1) Obras de Eloqüência: escreveu mais de 100 Orações, isto é, discursos jurídicos. Apontamos os mais importantes: In Verrem, 6 discursos contra C. Verre, pretor da Sicília, acusado de corrupção; As Catilinárias, 4 orações contra Catilina, denunciando sua conspiração para derrubar o poder do Senado; Pro Annio Milone, em defesa do aristocrata Milão, acusado de ter assassinado Clódio, figura expressiva do partido democrático; Filípicas,14 orações, sendo a mais notória a segunda, contra o triûnviro Antônio que, logo depois, para vingar-se, mandou decapitar Cícero. 2) Obras de Retórica: De oratore, em que Cícero aponta os requisitos essenciais para a formação de um perfeito orador; Brutus, que é a história da eloqüência em Roma; Orator, em que apresenta os traços do orador exemplar. 3) Obras de Filosofia: Cícero, como pensador, pode ser definido como um eclético, pois expõe o que havia de melhor nas escolas filosóficas de sua época (Estoicismo e Epicurismo, especialmente), sem criar um sistema próprio ou adotar uma teoria em particular. Escreveu tratados sobre filosofia política (De Republica, De Legibus), teorética (Academica, De natura deorum) e moral (De finibus bonorum et malorum, Tusculanae, Cato maior, Laetius, De officiis). 4) Cartas: quase mil missivas, endereçadas a familiares e amigos, tratando dos assuntos mais variados. Por este seu saber enciclopédico, seu nome, "Cicerone" em italiano (do acusativo latino ciceronem), passou a designar "quem sabe, mostra e explica". A citação em epígrafe faz parte das Catilinárias, onde Cícero acusa o jovem democrata de perturbar a ordem pública: "Até quando, Catilina, vai abusar da nossa paciência?"