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Galeria dos Brasileiros Ilustres/José Antônio Marinho

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José Antônio Marinho


Aliberdade de um povo não é uma conquista fácil. Aqueles que ao nascer encontram uma pátria livre, dotada de instituições protetoras, que gozam pacificamente de todos os cômodos, de todas as vantagens da liberdade e da civilização, nem sempre fazem idéia das lutas, dos sacrifícios que esses benefícios custaram à geração que os precedeu. No Brasil, como por toda a parte, a liberdade foi o prêmio do esforço, da dedicação e do patriotismo. A independência teve seus heróis e seus mártires.

A presença do príncipe português, que associou-se e tomou a responsabilidade dessa idéia generosa, tornou, é verdade, a revolução da independência muito mais fácil, muito menos ensangüentada do que tê-lo-ia sido em outras circunstâncias. Entretanto o fato da independência não foi consumado senão depois de lutas muito renhidas e do sacrifício de muitos patriotas.

Os dez anos do primeiro reinado, o período regencial, e os primeiros anos do segundo reinado não se passaram no seio da paz; pelo contrário, a luta foi muito mais viva, os combates muito mais encarniçados do que os da revolução da Independência. É que há uma enorme diferença entre esses dois períodos da nossa história. No primeiro restava em questão a autonomia da Nação brasileira; tratava-se de tornar o Brasil uma nação independente, de quebrar os laços que o prendiam à velha metrópole. A imensidade do território da colônia, o exemplo da América Espanhola, que se havia constituído em repúblicas independentes, a nossa riqueza consideravelmente aumentada pelo franqueamento dos nossos portos ao comércio estrangeiro, o estado de decrepitude em que se achava Portugal, tudo isso, além de outras causas, favoreceu a realização do pensamento da independência.

Realizada porém a independência, tínhamos de fazer uma outra conquista não menos preciosa, e sem a qual a primeira perderia notavelmente sua importância; restava-nos a nossa organização interna como povo livre; restava-nos o estabelecimento de instituições liberais que nos assegurassem a conquista que havíamos feito e que fossem o penhor do progresso, do engrandecimento e da felicidade do Brasil no futuro.

O segundo período tornou-se notável pelas lutas, pelas comoções intestinas que agitavam o seio da nova nacionalidade que tratava de constituir-se sobre a sólida base da liberdade. O combate foi rude. A Providência porém, que vela incessante sobre os destinos das nações, não deixa de fornecer-lhes meios que estejam em harmonia com a grandeza dos fins a que ela se propõe.

Se a obra da fundação do sistema representativo entre nós era uma empresa trabalhosa, cheia de toda a sorte de dificuldades; se a criação de instituições em que predominassem os princípios liberais, a que aspirava a nossa população, tinha de sofrer tenaz oposição da parte dos homens reatores, amigos do regime que a nação havia condenado, cumpre reconhecer que não nos faltaram espíritos fortes, homens enérgicos e patrióticos, que dedicaram toda a sua existência à realização da idéia liberal, e que colocaramse na altura da luta que se travou.

O Brasil, no último decênio do século XVIII e no primeiro do atual, foi fecundo em homens notáveis, em cidadãos cheios de patriotismo. Foi nesse período que nasceram todos, ou quase todos esses varões que prepararam e realizaram a revolução de 7 de abril; que lutaram durante a menoridade; que resistiram à reação nos primeiros anos da maioridade, que deram enfim provas do patriotismo o mais puro e desinteressado. A essa plêiade brilhante pertence o cidadão cuja vida vamos esboçar a traços largos. José Antônio Marinho não é um desses nomes que a indiferença dos contemporâneos possa esquecer rapidamente. Sua existência ativa e empreendedora deixou sulcos profundos, que a mão do tempo dificilmente poderá apagar. Como político, como padre e como educador da mocidade soube elevar-se muito acima dos homens vulgares. O círculo de suas relações era vasto, seu nome popular não só na província do seu nascimento, como em todo o Império.

E entretanto esse homem que assim se avantajava entre os seus concidadãos, não veio ao mundo cercado dos esplendores da fortuna. A família em que nasceu não possuía nenhum desses dotes que tornam fácil aos filhos o acesso às posições elevadas.

Em um dos pontos mais remotos do norte da província de Minas Gerais, no Porto do Salgado, pequena povoação situada a um quarto de légua da margem do rio de São Francisco, viviam Antônio José Marinho e sua mulher em posição que nada tinha de brilhante. Desse humilde casal nasceu aos 7 de outubro de 1803 José Antônio Marinho, que alguns anos depois tornou conhecido e ilustre o nome de seu pai.

Sua infância passou-se sem incidente notável. Terminados os estudos primários, manifestou o mais vivo desejo de prosseguir em seus estudos e de consagrar-se ao estado eclesiástico, a mais brilhante das carreiras a que podiam aspirar nesses tempos os filhos do país, que não tinham meios de ir pedir uma educação mais completa à Universidade de Coimbra. Infelizmente o estado de pobreza em que vivia seu pai era tal, que não lhe permitia a menor esperança de levar avante seus desejos. A inteligência do pequeno Marinho desenvolvia-se porém com tanta precocidade no meio daquele sertão inculto, que seus pais e todos os amigos e vizinhos não podiam deixar de admirá-lo e de deplorar a ingratidão da sorte que não lhe permitia cultivar as belas faculdades com que a natureza o dotara.

Um fato curioso, segundo conta-se, veio dar nova direção à vida do jovem Marinho e suscitar-lhe um dedicado protetor.

Tinha-se de celebrar no Salgado, com grande pompa, a festa de um santo. Preparava-se, entre outros divertimentos, uma representação dramática, que teria lugar em um teatro improvisado. Aconteceu porém que no dia do espetáculo o ator que se havia encarregado do principal papel não pôde ou não quis desempenhá-lo. Este acontecimento, como era natural, contrariou vivamente o festeiro e todos que contavam com aquele divertimento. O jovem Marinho, vendo as dificuldades em que se achavam, ofereceu-se imediatamente para suprir a falta do ator, alegando que sabia todo o papel por ter assistido aos ensaios.

Depois de muita hesitação foi aceito seu oferecimento. Ninguém entretanto esperava que o improvisado ator pudesse desempenhar o papel de um modo satisfatório. Em breve porém mudaram todos de opinião. O papel foi representado muito melhor do que o teria sido pelo ator que o estudara.

Essa extraordinária felicidade de memória, a compreensão que o jovem Marinho mostrou da ação dramática, impressionaram a todos e deram a mais alta idéia dos seus talentos.

Um fazendeiro a quem Marinho se dirigiu resolveu-se então a mandá-lo a Pernambuco, sede da diocese a que pertencia o Salgado, a fim de fazer os estudos necessários para o estado eclesiástico. Pouco tempo depois seguia o jovem Marinho pelo interior até a cidade de Pernambuco, munido de cartas de recomendação para o bispo, que o admitiu como seu fâmulo.

Prosseguia ele pacificamente em seus estudos quando rebentou em Pernambuco a revolução republicana de 1817. Alma ardente, cheia de aspirações democráticas, sonhando um futuro de liberdade e de progresso para sua pátria, o jovem estudante não hesitou em abraçar a idéia da revolução, e em trocar a samarra de fâmulo do palácio episcopal pela farda de soldado da liberdade. Assentou praça e acompanhou a fortuna dos seus com toda a fidelidade. Em breve deram-lhe o posto de alferes, que serviu até que a revolução fosse de todo vencida.

Derrotados os republicanos, o jovem estudante viu-se em grandes embaraços para continuar os seus estudos, pois, comprometido como estava, não podia mais voltar à capital. Tomou pois a resolução de regressar à sua província, onde talvez pudesse um dia concluir seus estudos e entrar para a carreira a que se propunha.

É curiosa e das mais interessantes a história dessa viagem que então fez o jovem Marinho, através de um imenso sertão, só, sem recursos pecuniários e sujeito a mil contrariedades. Admira que um jovem de 14 anos tivesse coragem para fazer tão longa viagem afrontando tantos obstáculos.

Chegando à vila da Barra, que então pertencia à província de Minas, foi convidado por uma respeitável senhora para fixar-se aí e encarregar-se da educação de seus filhos.

Na penúria em que se achava aceitou com reconhecimento o partido que se lhe oferecia, e votou-se com toda a dedicação à educação de seus discípulos.

Algum tempo depois resolveu procurar de novo o Salgado e tratar de concluir seus estudos na província de Minas. O seu generoso protetor acolheu-o com toda a benevolência e fê-lo seguir para o seminário do Caraça, onde entregou-se ao estudo das matérias que ali se ensinavam.

Foi então que seu talento começou a revelar-se de um modo verdadeiramente brilhante. Seus condiscípulos, muitos dos quais ocupam hoje posições eminentes no estado, contam que o talento de Marinho chamara desde o princípio a atenção não só de seus colegas, como de seus mestres. Estudava muito menos do que outros, aliás dotados de inteligência, dormia profundamente enquanto seus companheiros entregam-se a longas vigílias, e no dia seguinte depois de uma rápida leitura do compêndio, ou de uma breve exposição feita por quem o tivesse lido, marchava intrépido para a aula e mostrava-se tanto ou mais informado da matéria da lição, do que os mais estudiosos dos seus condiscípulos.

No fim de algum tempo era tal a opinião que formavam de suas habilitações, que foi nomeado para reger a cadeira de Filosofia do seminário.

Parece que um seminarista que tantas provas de talento havia dado, nenhuma dificuldade encontraria na sua ordenação. Não aconteceu assim. O bispo que então regia a diocese de Mariana suscitou-lhe toda a sorte de embaraços e obstinou-se em não conferir-lhe as sagradas ordens. A razão de tão estranho procedimento eram as opiniões francamente liberais que professava o jovem ordenando.

Só no ano de 1829, governando a diocese o novo bispo D. José da SS. Trindade, é que Marinho conseguiu tomar as últimas ordens e pôr termo à sua posição de pretendente.

Uma vez chegado ao termo dos seus estudos, com uma posição decente na sociedade, a carreira de Marinho foi rápida e brilhante. A excitação das paixões políticas estava então no seu auge. Filho legítimo da democracia, Marinho não podia ter a menor inclinação para o partido das idéias retrógradas. Assentou nas fileiras e todos sabem que foi um dos seus mais ardentes e úteis propugnadores.

A província de Minas então fazia ao primeiro reinado, que se havia divorciado da liberdade, essa patriótica e heróica oposição que lhe conquistou tão brilhante lugar entre todas as terras do Brasil. Marinho, associado aos homens mais patriotas da província, não foi estranho a alguma das muitas manifestações liberais que então se fizeram.

Nesses tempos de patriotismo os homens que revelavam talentos, que se mostravam dedicados à causa da liberdade eram conhecidos, procurados, estimados e elevados pelos seus correligionários. Apareciam então na província de Minas muitos jovens de talento distinto, ardentes de patriotismo, sedentos de glória.

Os liberais mineiros parece que formavam, nessa quadra gloriosa, um grande júri político onde o mérito tinha segura a sua recompensa. Na primeira eleição que se fez para deputados à assembléia provincial o partido liberal teve um lugar para o filho do humilde Antônio José Marinho. Na mesma ocasião conseguiu ele um dos primeiros lugares entre os suplentes à deputação geral. Na assembléia provincial mineira fez ele os seus primeiros ensaios na tribuna parlamentar, onde depois tantas glórias conquistou. Em 1829 tomou assento pela primeira vez na câmara temporária. A revolução da maioridade teve-o a seu lado. Por essa ocasião pronunciou ele um discurso cheio de veemência.

Homem feito no partido, com imensa reputação de parlamentar distinto em todo o país, com as melhores relações na província de Minas, Marinho tinha segura a sua carreira política. De 1841 em diante foi eleito constantemente deputado pela sua província. Seu nome era um dos primeiros na lista dos vinte. Sua voz simpática só deixou de ser ouvida no recinto da representação nacional, quando a reação antiliberal afastou da tribuna democrática todos os homens convictos do crime de liberalismo.

Arredado da Câmara dos Deputados, Marinho não se resignou à inação e à obscuridade a que o queriam condenar. Concebeu imediatamente o projeto de um grande estabelecimento, onde pudesse oferecer à mocidade uma sólida educação intelectual, moral e religiosa. Em 10 de junho de 1849 fundou o colégio que ainda hoje conserva seu nome.

Não faltam testemunhas do zelo e dedicação que Marinho empregava como chefe desse estabelecimento. Sua idéia favorita de 1849 em diante era dotar a capital do império de um estabelecimento de educação que fosse um modelo no gênero. A morte veio surpreendê-lo quando ele mais precisava de viver para completar sua obra. Entretanto o que ele deixou feito é muito em um país onde ordinariamente domina certo acanhamento de vistas nas mais úteis instituições. Muitos jovens, graduados hoje nas diversas faculdades do Império, aí estão para atestar os serviços que o finado Marinho prestou ao país fundando o seu estabelecimento de educação.

Não foi só como deputado e como instituidor da mocidade que Marinho prestou serviços ao país. Exerceu na província de Minas diversos cargos de eleição popular e de nomeação do governo. Em 1833 foi eleito juiz de paz de um dos distritos da cidade de Ouro Preto e eleito pela paróquia de sua residência.

Em 10 de novembro de 1834 foi nomeado depois do respectivo concurso professor de filosofia racional e moral da cidade de Ouro Preto. Algum tempo depois foi nomeado para exercer o mesmo emprego na cidade de S. João d’el-Rei.

Em 1845 nomearam-no diretor-geral dos índios da província de Minas e no ano seguinte procurador fiscal da tesouraria geral da mesma província. Exerceu esses lugares nos intervalos das sessões legislativas com o zelo e inteligência que o distinguiam.

Em 1847 apresentou-se candidato à igreja do SS. Sacramento do Rio de Janeiro, que se achava vaga. Seu ato no concurso a que se procedeu foi brilhantíssimo. Em 8 de maio foi apresentado e 3 dias depois confirmado e colado cura dessa igreja. O modo por que Marinho desempenhava as funções do seu sagrado ministério conciliou-lhe bem depressa o amor e o respeito do rebanho que fora confiado ao seu zelo.

A palavra sagrada tinha nele um eloqüente intérprete. O padre Marinho era incontestavelmente uma das glórias da nossa tribuna religiosa. Homem de fé robusta e ardente, senhor dos segredos da verdadeira eloqüência, a palavra de Deus saía dos seus lábios cheia de unção e capaz de fazer penetrar os raios da fé nas inteligências as mais obcecadas pelo materialismo da época.

Poucos anos depois de ordenado o padre Marinho conquistara no púlpito uma das reputações mais merecidas. Não só na província como na capital do Império sua palavra era ouvida com profunda atenção. Nas ocasiões as mais solenes era ele o pregador preferido.

Não lhe faltaram honras e distinções. Tanto na ordem eclesiástica como na civil seu mérito foi devidamente galardoado.

Em 1839 foi nomeado pregador da capela imperial; cônego honorário da mesma capela em 9 de setembro de 1840; algum tempo depois efetivo; protonotário apostólico em 22 de julho de 1847, camarista secreto supranumerário de Sua Santidade, com honras de monsenhor, em 11 de novembro do mesmo ano.

Era também cavaleiro e comendador da Ordem de Cristo, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional e de quase todas as associações literárias, científicas e humanitárias que se têm fundado entre nós.

É porém antes de tudo como homem político que monsenhor Marinho deve ser considerado. Uma nação nova como o Brasil não tem nem pode ter uma vida literária desenvolvida. A ciência, a literatura, as glórias da tribuna sagrada entre nós não possuem ainda o prestígio necessário para preocupar as inteligências superiores. Só uma vocação muito pronunciada é que pode desviar o brasileiro da arena das discussões políticas, ou da vida comercial.

A nação procura ainda as condições da sua organização interna. O problema político agita todas as inteligências. Todas as forças intelectuais do país convergem para esse ponto. A glória só pode ser conquistada nas lutas políticas. A ciência e a literatura não são ainda uma carreira, são apenas uma distração.

Monsenhor Marinho como quase todos os nossos homens notáveis, fez-se na política, e viveu na política. O pensamento político dominou quase toda a sua existência; tudo o mais era acessório. É portanto na sua carreira política que ele deve ser estudado.

Não fazemos uma biografia completa, traçamos apenas um esboço, coligimos alguns fatos, registramos algumas datas, que depois serão aproveitadas. Observaremos entretanto que Monsenhor Marinho foi uma das figuras mais notáveis que se projetaram na nossa cena política desde os últimos anos da regência até 1848.

Homem de convicções liberais sinceras, de patriotismo ardente, acompanhou o seu partido com uma dedicação verdadeiramente admirável, partilhando as glórias e aceitando as conseqüências de todos os reveses. Na tribuna parlamentar e na imprensa, prestou-lhe serviços da maior importância.

Ainda estão bem vivas na memória dos contemporâneos essas lutas parlamentares em que o distinto mineiro elevava-se à altura dos oradores mais notáveis da Câmara. É realmente coisa digna de admiração ver esse homem, que havia recebido uma educação defeituosa em um estabelecimento literário do interior, lutar de igual para igual, e muitas vezes com vantagem contra as maiores ilustrações do país, que tinham assento na Câmara.

Aí estão os anais do nosso Parlamento para confirmar o que dissemos.

Em 1842 não receou partilhar a responsabilidade da revolução que teve lugar na província de Minas: pelo contrário assumiu-a com todo o prazer.

Durante o tempo da luta esteve refugiado na fazenda do padre Gonçalo no município de Queluz. E aí, no coração das virgens florestas, segundo sua expressão, que ele tomava nota dos acontecimentos, e coligia os documentos que serviram de base à sua História da revolução de Minas, que todos conhecem.

Algum tempo depois de pacificada a província, monsenhor Marinho, com alguns outros liberais foi entregue ao júri da vila de Piranga, que o absolveu.

Na imprensa seus serviços não foram menos importantes que na tribuna. Redigiu em S. João d’El-Rei um periódico que gozou de importância; em 1847 o partido confiou-lhe a redação-em-chefe do Correio Mercantil.

Acima de todos os dotes da inteligência de todas as glórias que conquistou na política, estavam as belas qualidades de seu coração. Generoso, cheio de abnegação, dotado do verdadeiro espírito de caridade evangélica, não perdia ocasião de tornar-se útil a seus semelhantes. Monsenhor Marinho foi o benfeitor e o amparo de muitos que ainda hoje deploram sua perda.

Como deputado geral não se esquecia dos estabelecimentos religiosos e da caridade da cidade de S. João d’El-Rei, onde por muitos anos teve sua residência. No seu colégio recebiam gratuitamente o benefício da educação numerosos moços, filhos de amigos seus pouco abastados.

Um fato sobretudo põe em brilhante relevo a magnanimidade desse coração generoso. O bispo que tanto o hostilizara no princípio de sua carreira, recusando-lhe as ordens sacras que pretendia, achava-se no fim de sua vida reduzido a um estado digno de compaixão. Marinho, que então tinha assento na Câmara propôs e fez adotar pelo corpo legislativo um projeto concedendo uma pensão ao velho prelado!... Não é fácil encontrar muitos corações capazes de tanta generosidade!

Cumpre-nos porém consignar neste lugar que o prelado soube corresponder à magnanimidade do seu protetor. Marinho possuía uma carta do velho bispo que honrava tanto o benfeitor como o beneficiado.

Monsenhor Marinho era de um caráter franco e jovial. Seu espírito epigramático tornava sua conversação sumamente agradável. Achava-se ainda robusto e em toda a força de sua inteligência quando, a 3 de março de 1853, foi-nos roubado pela cruel enfermidade que tantas vítimas ilustres tem feito entre nós.