História das Psicoterapias e da Psicanálise/IV/III

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1) Entendemos por COMPLEXO um conjunto de reflexos, positivos ou negativos, que determinam uma tal classe de comportamento. (Idéias, imagens, pensamentos, sentimentos). Assim, um conjunto de reflexos positivos leva normalmente ao complexo de superioridade e um conjunto de reflexos negativos leva ao de inferioridade. Todavia, o uso da palavra complexo, tem, em Psicanálise, um sentido pejorativo e tratando-se de conjuntos de reflexos positivos, somente se consideram complexos quando anormalmente exagerados.

2) Complexo de culpa: Se origina do sentimento de culpa, que "nasce da reação psicológica contra impulsos violentos e até homicidas, agressivos ou pecaminosos". Segundo o grau de irritabilidade dos estímulos, surgem os reflexos ou reações, que provocam esses impulsos violentos de agressividade. Passada a irritação, sente-se a irracionabilidade desses impulsos e segue-se esse sentimento de ilógica, de estupidez e de culpabilidade. Quando o sentimento de culpa se torna quase permanente, obsessivo e irracional, estamos diante do verdadeiro Complexo de Culpa no sentido patológico ou psicanalítico.

De criança, por exemplo, amamos os pais, mas freqüentemente ficamos tremendamente irritados contra suas exigências, suas proibições e atitudes ao ponto de nos revoltarmos contra eles, odiá-los, ou mesmo agredi-los. Como também os amamos ao mesmo tempo, nos sentimos culpados de nossas atitudes.

3) Complexo de Castração: O menino em geral se orgulha de possuir um pênis, que a menina não tem. Esta, por sua vez, pode sentir-se inferiorizada por não tê-lo. Isto naturalmente, dependendo das conversas que escutar dos maiores a seu respeito. Por vezes os maiores podem usar de brincadeira com os meninos, dizendo-lhes que vão cortar o pênis, e as crianças podem tomá-lo a sério; as meninas podem também pensar que a elas já lhes foi cortado. Esse medo tornar-se-á, possivelmente, obsessivo e mais ou menos irracional, em alguns casos, o que constitui o chamado Complexo de Castração. Em Totem e Tabu, Freud explica como se originaria um complexo de castração inicial e primitivo, nos primórdios da humanidade.

4) Complexo de édipo, no homem, e de Electra na mulher: Durante a primeira infância desenvolve-se nas crianças normalmente um íntimo desejo de imitação e de se comportar como seus pais e, no caso do menino, especialmente como seu pai. O pai "idealizado" é, assim, "interiorizado" no Ego da criança como o "Ego ideal", ou Super-Ego. Freud os considerou como dois aspectos de uma mesma coisa. O Ego ideal corresponde à parte positiva das perfeições paternas que a criança se propõe imitar, como dizendo: "Tu deves fazer isto que teu pai faz". O Super-Ego corresponde a faceta do pai que impede, ameaça e pune, concluindo "Tu não farás isto, que teu pai não quer e não faz".

Nos primeiros anos, a criança recebe quase tudo da mãe, ama a mãe e se identifica com ela, quase que ignorando o pai. Mas em certa época, os filhos se dão conta do pai e voltam as vistas para ele. Em casos de uma boa educação normal (no caso do devido comportamento dos pais), o filho, sem deixar de amar e admirar a mãe, terminará identificando-se com o pai, pelo processo antes citado, e a filha, amando e admirando o pai, terminará imitando a mãe e identificando-se com ela.

Freqüentemente, porém, os comportamentos educacionais dos pais podem fazer com que o filho desenvolva anormalmente acentuadas idéias negativas do pai e positivas da mãe e vice-versa, a filha: negativas da mãe e positivas do pai. Por razões pessoais ou sociais, algumas mães obstentam uma predileção especial pelo filhinho varão e maior severidade, senão antipatia, para com as filhas: enquanto que os pais costumam manifestar maior carinho para a filhinha e maior indiferença para com os filhos. Os pais se sentem mais à vontade quando castigam os filhos e se tornam mais condescentes e benignos quando devem castigar a filha. Igualmente as mães desculpam e perdoam com maior facilidade o filho amado e tratam com maior severidade as filhas. Assim, idéias e imagens negativas ou positivas da mãe boa e do pai ruim podem desenvolver-se e fixar-se de maneira extraordinariamente anormal nos filhos, igual que outra equivalente, pode desenvolver-se nas filhas a respeito do pai e da mãe ruim. Isto faz com que o filho forme uma Imago totalmente negativa do bom pai e muito positiva da mãe, como a filha pode formá-la positiva do pai e negativa da mãe. Em conseqüência o filho terminará rejeitando o pai e identificando-se com a mãe, ao passo que a filha rejeitará a mãe, identificando-se com o pai. Nisto consiste o verdadeiro Complexo de édipo no menino e na menina, que nos adultos, homens e mulheres, acarretará comportamentos extremamente perniciosos, não só nos declaradamente neuróticos, como nos que se conservaram com certa normalidade.

Eis algumas das muitas imagens ambivalentes que se podem fixar na mente da criança, determinando a IMAGO total que acabarão formando do pai ou da mãe.

é claro que um núcleo específico dessas imagens positivas ou negativas tenderá a prevalecer e a fixar-se no inconsciente dinâmico da criança, constituindo o verdadeiro complexo edipiano, futuramente tanto mais perturbador, quanto maior o número de imagens negativas; e se uma eventual relação pai-filha ou mãe-filho de caráter especificamente sexual, e incestuoso, (muito mais comum que a relação filho-mãe ou filha-pai), tiver lugar, tenderá também a fixar-se resultando tanto mais traumática e perturbadora, quanto maior tenha sido a quantidade de emoção que a tenha acompanhado.

Resumindo: o verdadeiro complexo de édipo consiste, no menino: na rejeição do pai e na identificação com a mãe; e na menina: na rejeição da mãe e na identificação com o pai. E isto, se alguma vez tem uma origem de afetividade morbosa de aspecto sexual, na maioria dos casos, se origina da afetividade defeituosa nascida da falsa educação e do mau comportamento dos pais