Saltar para o conteúdo

História do Brasil (Frei Vicente do Salvador)/IV/XLI

Wikisource, a biblioteca livre

Muito se receava no Brasil, pelo muito dinheiro que d. Francisco de Souza havia gastado da fazenda de Sua Majestade, que lhe tomassem no reino estreita conta; porém como nada tornou para entesourar, antes do seu próprio gastou, como o outro grão capitão, não tratou el-rei senão de lhe fazer mercês, e porque ele não pediu mais que o marquesado de Minas de São Vicente o tornou a mandar a elas, com o governo do Espírito Santo, Rio de Janeiro, e mais capitanias do sul, ficando nas do norte governando d. Diogo de Menezes, como no tempo do governador Luiz de Brito de Almeida se havia concedido a Antônio Salema.

Trouxe d. Francisco consigo seu filho d. Antônio de Souza, que também já cá havia estado para capitão-mor desta costa, e outro filho menino chamado d. Luiz; e Sebastião Parvi de Brito por ouvidor-geral da sua repartição, com apelação e agravo para relação desta Bahia; partiram em duas caravelas de Lisboa, e chegaram a Pernambuco em vinte e oito dias, onde ainda que não era do seu governo, e jurisdição, lhe fizeram muitas festas.

Dali se foi para o Rio de Janeiro, e começou a entender no seu governo da terra, e o filho no mar, onde dizia Afonso de Albuquerque, que então ali era capitão-mor, que lhe ficava para governar senão o ar, mas presto o deixaram, porque d. Francisco foi para as Minas, e d. Antônio para o reino com as mostras do ouro delas, de que levava feita uma cruz e uma espada a Sua Majestade, o que tudo os corsários no mar lhe tomaram, nem o governador teve lugar de mandar outra com uma enfermidade grande, que teve na vila de São Paulo, da qual morreu estando tão pobre, que me afirmou um padre da companhia, que se achava com ele à sua morte, que nem uma vela tinha para lhe meterem na mão, se a não mandara levar do seu convento; mas quereria Deus alumiá-lo naquele tenebroso transe, por outras muitas que havia levado diante, de muitas esmolas, e obras de piedade, que sempre fez.

Seu filho d. Luiz de Souza ainda que de pouca idade ficou governando por eleição do povo até que se embarcou para o reino, tomou de caminho Pernambuco, e ali ficou casado com uma filha de João Paes; e assim cessou o negócio das minas, posto que não deixam alguns particulares de ir a elas, cada vez que querem, a tirar ouro, de que pagam os quintos a Sua Majestade, e não só se tira de lavagem, mas da própria terra, que botam fora depois de lavada, se tira também com artifício de azougue.