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História do Brasil (Frei Vicente do Salvador)/V/III

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Do Buraco das Tartarugas se partiu a nossa armada aos 28 de setembro da dita era, e navegando três dias inteiros foi ao quarto surgir a uma barra de um rio chamado a Parca, onde houve opiniões se fariam algum forte, dizendo Diogo de Campos que não fossem logo buscar diretamente o inimigo aonde estava com toda a força, mas que lhe fossem pouco a pouco ganhando terra, contudo Jerônimo de Albuquerque disse que isso era infinito, e mandou ao piloto-mor Sebastião Martins com o capitão Francisco de Palhares, e treze soldados, que fossem sondar o rio, e reconhecer a terra, como foram, e tendo andado vinte léguas pouco mais ou menos deram na baía do Maranhão da banda do sul em um bom porto, que lhes pareceu capaz para estar a armada surta, com a qual informação se fez toda à vela, e navegando cinco dias por onde o batel tornou, e chegou a este porto aos 28 do mês de outubro, dia dos bem-aventurados apóstolos S. Simão e Judas, donde desembarcaram na terra firme, e começaram a fazer um forte a que chamaram de Santa Maria, no qual ainda que de faxina e matéria fraca, materiam suparabat opus, pela boa traça que lhe deu o capitão Francisco de Frias, arquiteto-mor de Sua Majestade nestas partes do Brasil, e este forte se fez ao leste da ilha de S. Luiz, onde estavam os franceses, os quais vendo as nossas embarcações, e sabendo pelos índios, que trazido (sic) por espias a pouca gente, que nelas estava, deram nelas uma noite e as tomaram com alguns marinheiros, que ainda se não haviam desembarcado, e dali a oito dias, que era o de Santa Isabel rainha de Portugal, nelas mesmas, e nas suas, com mais 46 canoas, em que iam três mil índios flecheiros, se passaram da ilha, e foram surgir espaço de dois tiros de mosquete, abaixo do nosso forte, onde logo começaram a desembarcar os das canoas, e das outras embarcações maiores, ficando o seu general Daniel de Lancé (de la Touché), que era monsieur de Reverdière (sic), e Calvinista, nas maiores ao pego, esperando que enchesse a maré para sair com os mais, o que visto pelos nossos, e que se deixavam fortificar em terra, e pôr-nos cerco, não era o nosso forte bastante para lhes resistir, nem havia nele mantimentos bastantes para resistir à fome, determinaram sair logo a eles, como fizeram, indo Jerônimo de Albuquerque com 80 arcabuzeiros e 100 flecheiros pela montanha, e Diogo de Campos pela praia com o resto da gente, que era ainda menos, que ficavam no forte 60 soldados e alguns índios a cargo do capitão Salvador de Mello, para que se fosse necessário socorro o desse, e indo assim marchando o sargento-mor pela praia, chegou um francês trombeta, em uma canoinha, que remavam quatro índios, e lhe deu uma carta do seu general monsieur de Reverdière, de grandes ameaças, se lhe quisessem resistir, e que lavava as mãos do sangue, que se derramasse, porque tinha por si o direito da guerra, e muito maior força, a qual carta o sargento-mor meteu entre o véu do chapéu, e mandou o portador com outro véu nos olhos ao forte, para que o tivessem preso entretanto, porque não havia já tempo para mais outra resposta que esperar o sinal, que Jerônimo de Albuquerque havia de dar para remeterem, o qual dado com um grande urro, que deu o nosso gentio ao sair da brenha, donde o inimigo se não receava, remeteram também os da praia, indo em meio deles os nossos dois frades, frei Manuel, e frei Cosme, cada um com uma cruz na mão, animando-os, e exortando-os a vitória, que Nosso Senhor foi servido dar-lhes, em tal modo, que pouco mais de meia hora mataram 70 franceses, e entre eles o tenente do seu general, tomaram vivos nove, e puseram os mais em fugida, morrendo dos nossos somente quatro, e alguns feridos, entre os quais foi um o capitão Antônio de Albuquerque, filho do capitão, com dois pelouros de arcabuz em uma coxa.

Visto pelo general francês este destroço dos franceses, e dos seus índios, que ficaram muitos mortos, e os mais fugidos, e que esta fora a resposta da sua arrogante carta, se tornou para a ilha com a sua armada, e menos arrogância.