História do Brasil (Frei Vicente do Salvador)/V/XXVII
E se tão liberais se mostraram de suas pessoas os portugueses nesta ocasião, não o foram menos de suas fazendas, não somente os que se embarcaram, que estes claro está que aonde davam o mais haviam de dar o menos, e aonde arriscavam as vidas não haviam de poupar o dinheiro, e assim fizeram grandíssimas despesas; mas também os que se não puderam embarcar deram um grande subsídio pecuniário para o apresto da armada.
O presidente da Câmera da cidade de Lisboa deu da renda dela 100 mil cruzados. O excelentíssimo duque de Bragança d. Teodósio Segundo deu da sua fazenda e 20 mil cruzados. O duque de Caminha d. Miguel de Menezes, 16 mil e 500 cruzados. O duque de vila Hermosa, presidente do Conselho de Portugal, d. Carlos de Borja, dois mil e 400 cruzados, com que se pagaram 200 soldados.
O marquês de Castelo Rodrigo, d. Manuel de Moura Corte Real, três mil 350 cruzados, que em tanto se estimou o frete da nau Nossa Senhora do Rosário Maior, e a companhia que nela veio à sua custa. d. Luiz de Souza, alcaide-mor de Beja, senhor de Bringel, e governador que foi do estado do Brasil, três mil e 300 cruzados, e 30 moios de trigo para biscoitos.
O conde da Castanheira, d. João de Ataíde, dois mil e 500 cruzados. d. Pedro Coutinho, governador que foi de Ormuz, dois mil cruzados. d. Pedro de Alcaçova, mil e 500 cruzados. Antônio Gomes da Matta, correio-mor, dois mil cruzados. Francisco Soares, mil cruzados. Os filhos de Heitor Mendes, quatro mil cruzados. Contribuíram também os prelados eclesiásticos.
O ilustríssimo e reverendíssimo arcebispo de Lisboa d. Miguel de Castro com dois mil cruzados. O ilustríssimo arcebispo primaz d. Afonso Furtado de Mendonça, 10 mil cruzados. O ilustríssimo arcebispo de Évora d. Joseph de Mello, quatro mil cruzados. O bispo de Coimbra d. João Manuel, quatro mil cruzados. O bispo da guarda d. Francisco de Castro, dois mil cruzados. O bispo do Porto d. Rodrigo da Cunha, mil e 500 cruzados. O bispo do Algarve d. João Coutinho, mil cruzados.
Finalmente deram os mercadores portugueses de Lisboa e reino 34 mil cruzados. Os italianos 500 cruzados, e os alemães dois mil e cem cruzados, que em tanto se estimaram 150 quintais de pólvora, que deram; montou tudo 220 mil cruzados, que foi o gasto da armada, sem entrar nele a fazenda de Sua Majestade, e assim veio provida abundantissimamente de todo o necessário para a viagem, porque além das matalotagens, que os particulares traziam de suas casas, se carregaram para a campanha sete mil e 500 quintais de biscoito, 854 pipas de vinho, mil 368 de água, quatro mil 190 arrobas de carne, três mil 739 de peixe, mil 782 de arroz, 122 quartos de azeite, 93 pipas de vinagre, fora outro muito provimento de queijos, passas, figos, legumes, amêndoas, açúcar, doces, especiarias, e sal; vinte e duas boticas, dois médicos, e quase em todos os navios cirurgiões; 200 camas para os enfermos, e muitas meias, sapatos e camisas; 310 peças de artilharia, pelouros redondos e de cadeia, dois mil e 500; mosquetes, e arcabuzes, dois mil 710; chumbo em pelouros, 209 quintais; piques e meios piques, mil 355. De morrão 202 quintais. De pólvora 500 quintais, e muitas palanquetas de ferro, lanternetas, pés-de-cabra, colheres, carregadores, guarda-cartuchos, e todos os mais petrechos necessários para o serviço da artilharia, e para o de fortificações e cerco; vieram muitas pás, enxadas, alviões, picões, foices roçadeiras, machados, serras, seiras de esparto, e carretas de terra; e para o conserto dos navios veio muito breu, alcatrão, cevo, pregadeiras sorteadas, estopa, chumbo em pasta, enxárcia, lona, pano de treu (sic), fio, e outras muitas miudezas, e para uma necessidade 20 mil cruzados em reais.