Horto (1910)/Na Judéa
Imitando a Transfiguração de G. Crespo
Tinha Jesus no olhar o doce azul dos mares
E no cabello d’oiro os raios estrellares.
No seu sorriso em flor alguma cousa havia
Dos beijos virginaes dos labios de Maria.
Seu passo era tão leve e sua voz tão mansa
Como deve ser leve um sonho de creança.
Elle vinha do Céo dizer ao mundo inteiro:
«Eu sou filho de Deus, Messias verdadeiro.»
O povo soluçava ouvindo a voz dolente
Do pallido Jesus, tão doce e tão clemente!
E Maria tambem, lembrando a prophecia
Do velho Simeão, da espada da agonia,
Soluçava de dor fitando os olhos castos
No rosto de seu filho, em seus cabellos bastos.
Mas Jesus, a sorrir, fallava á turba immensa,
Silenciosa a escutar, de sua voz suspensa...
E a palavra de luz de seus labios descia,
Como o pranto sem fim dos olhos de Maria.