Lágrimas Abençoadas/III/XIX
Foram aconselhados a Maria ares do campo. Saíu de Lisboa para Collares, acompanhada por seu tio, e dois creados. Alvaro partira para Villa Franca, e de uma quinta, muito conhecida nos arrabaldes d'aquella villa, fazia as suas excursões á caça, em que entreteve um mez, distraído de tudo; e embebido no seu affecto remoçado ao inseparavel conde.
Entretanto, Maria déra largas ao coração abafado. Padre Antonio sabia a causa do soffrimento, mas affectava extranheza, para não auctorisar queixumes de mulher casada. Fazia grandes rodeios aconselhando a sua sobrinha a resignação, porém, simulando, sempre, que não conhecia motivo para tristeza tão inconsolavel.
Uma vez, Maria, cançou na lucta comsigo mesma, e fixou no tio os seus grandes olhos arrasados de lagrimas. Era um olhar de soffrimento que reage, uma accusação ao homem que concorrera para o seu infortunio, e parecia impor-lhe a violencia da mudez, a morte surda sem a inoffensiva respiração de uma queixa.
Frei Antonio entendeu-a, e disse:
—Fala, minha querida sobrinha, accusa-me, e depois pediremos ambos ao Senhor que nos dê melhor vida a ambos.