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O Livro de Esopo/A cadella que pediu a casa a outra

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IX. [A cadella que pediu a casa a outra]

[Fl. 7-r.][C]omta-sse que hũa cadella prenhe, queremdo parir e nom avemdo casa, disse a outra cadella, que era muyto ssua amigua, a quall tijnha hũa fremosa casa:

— Rrogo-te, amigua, que me emprestes a tua casa ataa que eu payra meus fi[lhos][1].

A cadella rrespomdeo que lh’a queria emprestar de boamente. E leuou haa[2] dicta cadella prenhe pera ssua casa, e leixou-lhe a casa ataa que parisse.

Esta cadella prenhe pario e fez sseus filhos. E d’hi a hũu çerto tempo tornou a cadella cuja era a casa, e rrogou aa outra cadella que lhe desembargasse ssua casa. E a cadella muyto hirosa ssayo fora com sseus filhos;[3] compeçarom a dizer muytas maas palauras e morder todos na cadella, dizemdo:

— Falsa rribalda, nom ssabemos que dizes, ca esta casa he nossa.

E veemdo a cadella que sse nom pudia defemder da madre e dos filhos, fugio e leixou-lhe a casa.




Em aquesta hestoria ho douctor nos dá emsinamento e diz que nós nom deuemos creer aquelles que nos querem emguanar com falsas e doçes palauras. Ca muytas vezes acomteçe que muytos homẽes no mundo ssom emguanados com emguanos de palauras doçes. E esto sse entemde d’aqueles que hũa palaura dizem pella boca, e outra teem no coraçom[4].

Notas

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  1. O que ponho entre colchetes está delido no manuscrito.
  2. =aa (preposição e artigo)
  3. Aqui falta talvez e. Por compeçarom o ms. tem compecarom.
  4. No ms. coracom.