O Livro de Esopo/As rãs que pedem um senhor a Jove
[Fl. 37-r.][C]omtasse que hũu tempo as rrãas viviam em gramde liberdade, e muyto a sseu talemte, e nom sse comtentauam d’esta boa vida; forom-sse ao<s> deus Jouis e rrogarom no que lhe desse hũu ssenhor: E o dicto Jouis rryo e escarneçeo d’ellas, e fez que as nom ouvia.
E outra vez tornarom a ell, e o<s> deus Jouis fez deytar hũa traue em a augua, e ellas ouuerom gram medo e esteuerom quedas e meterom as cabeças do fumdo da augua; e depois que perderom[1] o medo, alçarom as cabeças e virom esta traue e acheguarom-sse a ella e ssobirom-sse em çima della: e veemdo que nom falaua nem sse movia, escarneçiam d’ella.
Tornarom ao deus Jouis, rrogamdo que lhe desse mjlhor[2] ssenhor: e o deus Jouis com gramde ssanha lhe mandou hũa gramde coobra que as comia cada hũu dia. E estas rrãas pidiam misericordia[3] ao deus Jouis que as liurasse da boca d’esta ser[pe]mte[4]; e pouco lhe prestaua pidir misericordia[5], ca o de[us] Jo[uis] nom as queria ouuir nem liurar.
Em aquesta estoria o doutor nos emsiua e diz que ssom algũas persoas[6] que nom conhocem e bem quamdo o ham, mays amtes ho despreçam. E o homem nom conhoçe o bem nem o doçe ssenom quamdo gosta ho am[argo]; pero quamdo o homem ha boa auemturança, /[Fl. 37-v.] deue ha conhoçer. Nehũu[7] que está em liberdade nom
sse faça seruo, como fezerom as rrãas.
Notas
[editar]- ↑ Aqui está riscada a palavra em.
- ↑ A linha termina no meio da palavra: mj-.
- ↑ Em abreviatura: mĩa.
- ↑ No logar de pe o ms. está roto. O mesmo succede com relação ás palavras que adiante ponho entre colchetes.
- ↑ Tambem mĩa em abreviatura, como acima.
- ↑ No ms. psoas com o p cortado na haste.
- ↑ por extenso: nehũu, o que confirma o que se disse supra, na nota 7 da fab. I e noutros logares. Cf. nhehũa na fab. XXXIV.