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O Livro de Esopo/O cão e a posta de carne

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V. [O cão e a posta de carne]

[C]omta-sse que hũa vez hũu cam furtou hũa posta de carne; e fugindo com ela passaua per hũa pomte, e memtres que passaua, guardou na augua, e vio a ssoombra da carne que leuaua na boca, a qual ssoombra pareçia a elle que era duas[1] tamta carne que aquella que[2] elle leuaua na boca. E veemdo a ssoombra, deytou-sse na /[Fl. 4-v.] augua, cuydamdo tomar a outra carne, e abrio a boca; e abrimdo a boca pera tomar a ssoombra que lhe ssemelhaua carne, cayo-lhe a carne que leuaua na boca: e assy perdeo hũa e a outra.




Em aquesta hestoria ho douctor rreprehemde ha[3] aquelles que leixam as cousas çertas pellas jmçertas, e querem leixar as ssuas cousas por cobijça de cobrar as alheas, assy como fez este cam, que leixou perder a carne que leuaua na boca, por cobrar a ssoombra que lhe pareçia mayor.

Notas

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  1. Isto é: duas vezes tanta carne.
  2. Depois de que está riscada a palavra possta
  3. =a. Podia transcrever-se tambem: haaquelles.