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O Livro de Esopo/O lavrador e a andorinha

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XLVIII. [O lavrador e a andorinha]

[C]omta-sse que hũu laurador ssemeou linho em hũu campo. E a amdorinha, quamdo esto vio, fez ajumtamento com quamtas aues pôde auer e disse-lhe:

— Ueedes uós este linho que aquy he ssemeado? Elle será aazo de nossa morte. Vós fazede [e]m[1] tall guysa destroyr a ssememte amtes que /[Fl. 35-v.] naça, ca este vilaão quer fazer d’aqueste linho rredes e laços pera nos tomar em elles; e esto ssey eu porque durmo em ssua casa, e nom sse guarda de mym, e diz esto.

E as outras aves ouuerom-na por ssamdia, e escarneçiam d’ella.

Depois a pouco tempo, o linho começou de creçer. E a amdorinha chamou outra vez as aues e disse-lhe que, pois nom quyserom comer a ssememte, que em toda guisa ho fossem dapnar com os pees amte que mays creçesse. E as aues outra uez escarneçerom d’ella e nom o quyserom fazer.

Depoys que o linho foy gramde, fez[2] d’elle rredes e laços e tomaua muytas aues. Depoys as aues sse rrecordarom do comsselho da amdorinha, e diziam:

— Myzquynhas! Nós nom quisemos creer ao bõo comsselho da andorinha!




Em aquesta estoria o doutor nos emsina que [a]uemos[3] seer auysados do tempo que ha d[e] uĩjr[4], e nom deuemos de despreçar o bõo comsselho de nhũa perssoa[5], por pequena que sseia; outrossy nom deuemos estar sseguros das cousas que ssom prijgosas, que aqueles que muyto se fiam, algũas vezes ficam emguanados.

Notas

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  1. Roto o ms. no logar do e.
  2. O sujeito grammatical é o lavrador.
  3. No ms. está roto o logar do a.
  4. Da expressão ha de uĩjr, só se percebe had … jr, com parte do u e o til.
  5. No ms. pssoa, com o p cortado na haste (=per).