O Piolho Viajante/XXXVI
Este mau homem, ou este homem que não era amigo de ninguém, não era um verdadeiro misantropo. Não gostava da sociedade dos homens e, ao mesmo tempo, não era seu inimigo. Era duro mas não exercitava essa dureza. Via sem custo uma ferida mas não era capaz de dar um golpe. Era mau mas muito e muito melhor que o bom de quem acabei de falar. O outro escondia o que era, este deixava-se ver. Ou fosse criação, ou fosse que os homens o tinham tratado mal, fugia deles. Não os acariciava mas não os iludia. Se lhe pediam uma esmola, dizia não quero dar. Mas não dizia, não posso, meu irmão, tendo as algibeiras cheias de ouro. Não era amigo mas não dizia que era sem o ser.
Jamais o ouvi rir nem chorar. Era tão áspero que nem as mulheres o amaciavam. Sempre era o mesmo tom que tinha com todos. Jamais o vi contente, mas também não posso dizer que o vi triste. Andava eu a cismar com a tal criatura e não estava muito contente de viver com ele. Poucos dias passaram que lhe estava na cabeça, quando ele diz ao cabeleireiro: — Senhor Mestre, corte-me o cabelo e dê-me com um pente de bichos. Eu não sabia o que havia de fazer e fiquei tão fora de mim que me mexi mais do lugar onde estava. Fez-se a penteadela e acabada que foi sacudiu-se a toalha na rua. Fui cair sobre um homem que passava, o qual era muito asseado e o mais amante homem daquele tempo, cujo amante é o que leva a