Onde porei meus olhos que não veja

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Onde porei meus olhos que não veja
A causa de que nasce o meu tormento?
A qual parte me irei co'o pensamento,
Que para descansar parte me seja?

Ja sei como se engana quem deseja
Em vão amor fiel contentamento;
E que nos gostos seus, que são de vento,
Sempre falta seu bem, seu mal sobeja.

Mas inda, sôbre o claro desengano,
Assi me traz esta alma sobjugada,
Que delle está pendendo o meu desejo.

E vou de dia em dia, de anno em ano,
Apoz hum não sei que, apoz hum nada,
Que quanto mais me chego, menos vejo.