E pede a Deus, do er'mita a contrição,
Depois de ter ao céo, por elle orado;
E cava a sepultura a quem a sua,
Na idade juvenil cavou sem dó,
Olha por derradeiro o corpo exangue
Que em breve só será do nada o pó!..
Quer depois arvorar na pobre campa
A efigie d'essa cruz da redempção;
Mas não vê nas montanhas de que fórme,
Venerando signal d'agra paixão;
Atravessa desertos, desce montes,
Transpõe formoso rio cristalino
E além n'um denso bosque verdejante,
Cruz singela formou d'um lenho fino.
Em quanto repousava os lassos membros,
Eis que escuta uma voz tão magoada,
E tão lugubre, debil e queixosa,
Qual a d'Hero expirante, desgraçada!
E ouvindo-a estremece e o coração
No peito juvenil forte pulsára;
Immovel fica o Bardo, commovido
Pela voz tão saudosa que escutava;
Por suspiros e pranto entrecortada
Essa voz su'alma compungia
E tão só, sem amparo, por est'arte,
No silencio dos bosques s'exprimia:
(Continua.)
No livro dos destinos li tremendo,
Meu nome em negra pagina traçado
E com letras de sangue vi gravado
O porvir e passado assim dizendo:
«Quando nasceste ó triste, aspecto horrendo
«A natura tomou e desmaiado
«Teu astro enfiou ― logo apagado,
«A um pelagode trevas foi descendo!
«Que esperas infeliz do teu futuro?!
«Oh! Terás sempre adversa a tua sorte,
«Supportando o rigor d'um fado duro;
«Pezará sobre ti tormento forte!
«Fulgindo só no ceu teu astro puro
«Quando o dia chegar da crua morte!
Maria Adelaide Fernandes Prata.
'No lago d'o seu jardim
Foi-se banhar a sultana,
Mais esbelta que o jasmim
Mais formosa que Diana;
E, vendo-a assim, o sultão,
Debruçado 'no balcão,
Bradou com modo orgulhoso:
« ― Ninguem mais te-póde vêr,
«Estás, Fatima, em meu poder,
«Sou eu só que assim te-gozo.»
« ― Inganas-te!» ― diz 'no ar
A nuvem que ia correndo.
« ― Tambem eu posso gozar
«O mesmo que tu estás vendo.»
O sultão muda de côr;
Tira o alfange com furor,
E, acceso em sanha féra,
Crava-o 'no peito innocente
D'afavorita imprudente.....
E a nuvem? Desapparecêra
G. B. A.
