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cotia. Carlos, admirado, gabava-lhe a perícia, a certeza da pontaria, a calma...

— Ora, vosmecê ainda nada viu! Nós, que nascemos e vivemos no mato nunca perdemos um tiro. Mas por hoje basta. Vamos procurar seu irmão, que já deve estar cansado de esperar...

Uma triste surpresa lhes estava reservada. Não acharam o menino no lugar em que o haviam deixado. Chamaram-no, gritaram por ele, — em vão. Com seu faro de caçador, Juvêncio examinou o local, para ver que rumo teria Alfredo tomado, e reconheceu que ele tinha penetrado no mato:

Olhe! — disse a Carlos, — estas folhas aqui devem ter sido pisadas por ele. Vamos procurá-lo. Em todo o caso, é bom que o Júlio vá à casa; talvez seu irmão tenha voltado para lá...

Separaram-se de Júlio, e internaram-se de novo no mato, gritando de vez em quando: — Alfredo, Alfredo!... Mas não recebiam resposta, e continuaram a andar.

De repente, Juvêncio viu luzir, entre as voltas de um cipoal, o pêlo arruivascado de um bicho. Apontou a arma, e fez fogo. Aproximaram-se, e... que horror! Viram uma onça suçuarana, que estrebuchava, ainda com vida... Carlos tremia. — já não por si, mas pelo irmãozinho, que andava por ali perdido, expondo-se a ser devorado por qualquer animal feroz. O próprio Juvêncio, apesar da sua calma, estava pálido, — também pensando nisso. Continuaram, gritando e chamando sempre. O pior é que não tardava o cair da noite; dentro do mato já reinava uma meia escuridão amedrontadora. Chegou um momento em que