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— Ora, antigamente, quase não havia polícia por aqui. Era preciso que a vítima fosse alguma pessoa importante ou rica, para que as autoridades se abalassem. Na maioria dos casos, os criminosos ficavam sem castigo. Enterrava-se uma cruz no lugar em que o desgraçado tinha caído morto, — e não se tratava mais do caso.

— Mas a cruz está enfeitada... — notou Carlos — quem a terá enfeitado?

— Foi o povo... Quando uma pessoa morre assim, caída da perversidade um malvado, o povo acredita que a alma dessa pessoa foi logo para o céu, e começa a fazer-lhe “promessas”: acende velas, e coloca flores no lugar em que se deu o crime; às vezes até se levantam capelinhas, onde o povo vem rezar...

— Que horror! — exclamou Alfredo — e há sempre assassinatos?

— Ah! Não! Os tempos mudaram. Os costumes são outros. Agora são raros os crimes.

Continuaram a caminhar. Cem metros adiante a estrada subia, costeando um morro. Apareceram algumas casas, na colina; e, em breve, os viajantes chegaram a um pequeno arraial, formado por pouco mais de uma dúzia de habitações. A primeira casa do arraial era uma “venda”. Para aí se dirigiram os rapazes, e pediram ao vendeiro que lhes permitisse que se aboletassem debaixo de um telheiro ao lado.