Quando os olhos emprégo no passado
Aspeto
Quando os olhos emprégo no passado,
De quanto passei me acho arrependido;
Vejo que tudo foi tempo perdido,
Que tudo emprêgo foi mal empregado.
Sempre no mais damnoso mais cuidado;
Tudo o que mais cumpria, mal cumprido;
De desenganos menos advertido
Fui, quando de esperanças mais frustrado.
Os castellos que erguia o pensamento,
No ponto que mais altos os erguia,
Por esse chão os via em hum momento.
Que erradas contas faz a phantasia!
Pois tudo pára em morte, tudo em vento,
Triste o que espera! triste o que confia!