Uma Lágrima de Mulher/I/XII

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Tinha começado o inverno e, apesar disso, a noite marcada para a entrevista dos dois amantes era tão serena, que faria chorar de inveja a vaidosa primavera.

Nem uma nuvem perturbava o aspecto ingênuo e puro do céu.

As oliveiras solitárias e esguias, como toda a vegetação de Lipari, em virtude da leveza da atmosfera, beijavam-se voluptuosamente, impelidas pela brisa fresca do mar, e projetavam no chão, contra a luz da lua, uma sombra de triplicado comprimento.

O vento estorcia-se, uivando como um doido de asas e redemoinhava em torno das oliveiras, cujas sombras desenhavam na aspereza do solo fantasmas singulares e monstros extravagantemente disformes.

Às vezes, o doido mudava de rumo e quebrava no ar o murmúrio das cantigas dos pescadores, que estendiam a rede do lado do poente.

E assim vagavam, soltas e desarticuladas no espaço, vozes confusas e disparatadas.

O mais dormia silenciosamente.

A casinha branca parecia, ao luar, embrulhada com frio, num lençol de linha alvo.

A lua aborrecia-se, coitada! no seu eterno isolamento!