Deodoro da Fonseca (número único)/Coluna 5-2/Página 2-3/General Deodoro

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GENERAL DEODORO

A vida dos grandes homens é como a luz que apagada immerge tendo o universo na escuridão e na tristeza.

Brazileiros! R i o - Grandenses ! onde está o nosso grande general Deodoro? !

Em que mundo, em que terra elle se esconde, que delle só se escutam estas sentidas preces que o choram?

Não!... não choremos mais cidadãos! Choremos antes pela patria que o perdeu, pelo nosso infortunado paiz que sente a sua falta!

Que póde a morte contra Deodoro?

Que importão estes lugubres apparatos? Nào vedes essas gloriosas datas, brilhantes de vida no seio do passageiro luto ? Não estarão nellas desenhada a immortalidade com toda o seu prestigio? Não... Deodoro não morreu, elle foi alistar-se nas phalanges do infinito, sentou praça nos batalhões da eternidade. Elle foi em outros mundos preconisar as nossas glorias.

Vede-o: elle está agora cercado das sombras de seus antigos camaradas, reproduzindo as scenas triumphantes de suas titanicas jornadas! Escutae-o : elle falla do dia 15 de Novembro de 1889, elle mostra agora o seu grande e patriótico coração, que soube conter generoso n'aquelle memoravel dia a gloria maior de sua terra natal! Elle só... sómente elle e a sua alma podiam conter pensamentos tão elevados, ideias tão heroicas, conquistando para a sua pátria uma coroa tão fulgente !

Vede-o : o sol de 15 de Novembro illumina ainda a sua fronte elevada e o seu altivo porte, que tem maior magestade que o dos reis! Quem vio jamais em peito brazileiro, guardar-se para a patria herança de mais sublimes victorias de que aquella?

Olhae-o ainda : oh ! deixai que elle só recante os grandiosos feitos d'esse dia esplendido de 15 de Novembro !

Quem de nós não o sabe ? Quem foi jamais tão grande nesta terra? Arrojado leão, condôr de guerra que a victoria coroava em toda a parte onde a espada que alcançava ia apontando o caminho da honra e do triumpho ; quem pode ainda imital-o em nossa patria ?

Olhae-o ainda, Rio-Grandenses? olhae-o sempre, elle volta agora ao seio do exercito mais ennobrecido, mais elevado, e já o seu idolo, a sua estreita de triumphos, o Napoleão das pampas o Alexandre americano.

O Brazil inteiro levanta-se para saudal-o, a patria o sauda de pé e o povo descobre-se para vel-o passar. General em chefe, dáo-lhe agora o lugar que elle e os seus destinos disputavam para o seu grande nome. O que fez elle ? Epopéa sublime tle victorias, pintura augusta dos maiores triumphos da terra de Santa Cruz, quem poderá descrever a tua valia. teu renome immnortal, — ó grande Deodoro?! E vimos chorar a tua morte, e vimos lembrar as tuas glorias ao pé de um mausoléo ?!... Atroz fatalidade! Herdeira dos cezaes, irmão de Leonidas, vulto esplendido da patria, onde estás?

Porque dormes, filho querido da liberdade? Porque nos privas de tua luz, astro mais fulgido e bello batalhador da liberdade!? Onde estás, onde descanças batalhador glorioso, luctador incançavel da terra do cruzeiro! Morte, que o roubastes, que podes tú calma sublime, contra elle? Sobranceiro coração eu te saudo em teu jeito de morte, no seio brilhante de tua immortalidade! Quebrem-se embora as tuas estatuas e memorias, rasgam-se as paginas da historia em que forão escriptas as tuas nobres acções, entreguem-se á mão do tempo as inscripçôes de teus feitos ; no coração do povo que te admirou, apezar da inveja e do odio, o teu nome viverá gravado para sempre! Eu te sauda alma immortal ! Tua memoria passará intacta, teu glorioso nome será transmittido ás ultimas idades, de nossos descendentes.

Salvador da honra nacional, vingador da patria o reservado destino glorificado e puro que te sabem guardar os leaes corações rio-grandenses, te hão de sempre collocar na primeira linha de seus mais amados heroes !

Salve, Deodoro ! A posteridade que vinga os povos das injustiças e seus oppressores que sentado sobre os tummulos dos reis tem separada as cinzas de Tito e Caligula as de Nero, do feroz Domiciano, as de Galba do bom Antonio, marcará, por certo, com o seu sinete inofuscavel os successos patrióticos e maravilhosas de tua vida dedicada e heroica! Quasi cincoenta annos de trabalhos tão honrosos, tantos lustres consumidos ao serviço da patria ; heroismo tão nobre, tão esplendida dedicação, mereceram-te a immortalidade e maior renome que filho algum d'esta republica alcançará ainda.

Todo o Brazil te admira, o mundo inteiro ha de saudar-te—Deodoro ! Salve, ó cinzas venerandas! Nome maior da minha terra, salve!

...Brasileiros, irmãos rio-grandenses, onde está o grande e envicto general Deodoro?... Posteridade eu te admiro!... Tens em teu seio o nome mais nobre d'esta grande terra. Deodoro, ó grande Deodoro, dorme em paz. e jà que teu vulto não pertence a tua amada Republica, que hoje te chora, que o teu nome e a tua sombra veneranda, nos cubra ainda por muito com a protecção benefica de tua santa e respeitável memória!

Rio-Grande, 18 de Setembro de 1892.

Alfredo Paes


Esta obra entrou em domínio público no contexto da Lei 5988/1973, Art. 42, que esteve vigente até junho de 1998.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.