Dicionário de Cultura Básica/Ópera
ÓPERA (espetáculo dramático, musical e canoro) → Teatro → Lírica
O teatro da Ópera tem nome e origem italiana. O Orfeu, de Claudio Monteverdi, representada em Nápoles, em 1607, é a primeira peça que contém todos os ingredientes do gênero operístico: além do texto escrito (libreto), com trechos cantados e outros recitados pelos atores, há a orquestra, o coro, as árias. De Nápoles, essa forma de espetáculo se difundiu para outras cidades da Itália (Roma, Florença, Milão, Mântua) e de outros países da Europa. Na França, o gênero operístico foi divulgado pelo italiano Giovanni Battista Lulli, mais conhecido pelo nome francês de Jean Baptiste Lully, que representou peças pastorais na Academia Real de Música, fundada em 1671. Na Inglaterra, o compositor Haendel, ainda na segunda metade do século XVII, imitou o gênero operístico napolitano, representando peças suas e de outros autores: a mais famosa é a Ópera do mendigo, adaptada posteriormente por Brecht (A ópera dos três vinténs) e, mais recentemente, por Chico Buarque de Holanda (A ópera do malandro). Mas foi na época do Romantismo que o teatro da ópera atingiu seu maior fulgor, quando deixou de ser espetáculo destinado à classe nobre e rica para passar a interpretar a sensibilidade do público burguês. Na primeira metade do século XIX, temos três compositores italianos famosos: Gioacchino Rossini (A pedra de toque, A italiana em Argel, O turco na Itália), Gaetano Donizetti (D. Pasquale, Lucia de Lammermour) e Vincenzo Bellini (Norma). Na segunda metade, afloraram outros operistas italianos mundialmente consagrados: Giuseppe Verdi (Rigoletto, O trovador, A traviata, As vésperas sicilianas, Alda, Otello, Falstaff); Ruggiero Leoncavallo (Os palhaços); Pietro Mascagni (Cavalleria rusticana); Giacomo Puccini (La Bohème, Tosca, Madame Butterfly). Fora da Itália, lembramos os franceses Berlioz (Benvenuto Cellini, Béatrice et Bénédict), Auber (Fra Diávolo), Bizet (Carmen), Debussy (Pélleas et Melisande); os alemães Wagner (Tannhàuser, Lohengrin, Tristâo e Isolda, Parsifal e a famosa tetralogia de O anel dos Nibelungos, baseada na poesia épica da Idade Média germânica: O ouro do Reno, Valquíria, Sigfrido e O crepúsculo dos deuses) e Strauss (Salomé, Electra). Do Brasil romântico, apontamos as peças operísticas de Carlos Gomes, encenadas pela primeira vez no teatro Scala de Milão: O condor (1871) e O Guarani (1873).
Os estudiosos do assunto distinguem, substancialmente, dois tipos de peças operísticas: a ópera-lírica, de assunto sério, dramático ou apenas sentimental, e a ópera-bufa, ópera-cômica ou opereta, de assunto leve, alegre, onde se mesclam passagens faladas com episódios cantados. Ao primeiro tipo pertencem as peças relacionadas acima, destinadas a um público culto apreciador "del bel canto" e do espetáculo faustoso: ainda hoje, a noite de inauguração da temporada lírica nos teatros apropriados (Théâtre de L’Opera, de Paris; Scala, de Milão; San Carlo, de Nápoles; Municipal, do Rio de Janeiro e de São Paulo; entre outros) é um evento social de grande esplendor, onde nobres e ricos ostentam as roupas da última moda e as jóias mais caras. Já a opereta, próxima do music-hall norte-americano, é mais um espetáculo de variedades destinado à classe burguesa, que sente prazer em ouvir uma melodia alegre e aprecia trechos cômicos junto com danças e exibições de acrobacia. Exemplos de ópera-bufa: A empregada patroa, de Pergolesi; O casamento secreto, de Cimarosa; As bodas de Fígaro e Assim fazem todas, de Mozart; O barbeiro de Sevilha, de Rossini; A viúva alegre, de Franz Lehar. Até o início do século XVIII, a ópera-lírica tinha por sinônimo a palavra "melodrama" (do grego mélos, "canto"; e drama, "ação"). Na verdade, esse termo é muito genérico, indicando qualquer peça de teatro que tenha acompanhamento musical e apresente como características o sentimentalismo, a emoção, o elemento sorte, o assunto episódico, o altruísmo das personagens. Fora do teatro, chama-se melodrama a qualquer obra sentimental, que provoque lágrimas e que tenha um final feliz. Nesse sentido amplo, a maioria dos filmes e obras televisivas feitas para a grande massa pode ser considerada melodrama, o chamado "dramalhão", em que se especializou a telenovela mexicana. Mas a Ópera lírica, no sentido tradicional, ainda hoje é cultivada: o francês André Previn, por exemplo, conhecido como regente e pianista de jazz, compôs recentemente a ópera Um Bonde Chamado Desejo, baseada em texto homônimo do dramaturgo Tennessee Williams (1988).