Dicionário de Cultura Básica/Ceticismo

Wikisource, a biblioteca livre

CETICISMO (escola filosófica grega: ateísmo, agnosticismo, incredulidade)

"A evanescência da verdade"

Do grego skepticos (de sképtis = "busca"), cético indica aquele que procura mas não acha e, portanto, acaba não crendo, duvidando de tudo. Como sistema filosófico, o Ceticismo foi fundado por Pirro de Élis (séc. IV a.C.), cujo pensamento foi retomado por Sexto Empírico, médico e pensador grego do início do séc. II a.C. A doutrina cética repousa na suspensão do julgamento: nada pode ser afirmado, se não houver provas irrefutáveis. São usados, quase como sinônimos de céptico, os termos: agnóstico (do "a", prefixo negativo + gnosis = "conhecimento"), quem não admite a possibilidade de um saber além da experiência material; ateu ("a" = "não" + theos = "deus"), quem não acredita na existência de um ente transcendental; incrédulo (de "in", prefixo negativo latino, + credo), aquele que não tem fé. O pensador grego Sexto, apelidado de "O Empírico", pela sua postura ideológica, distingue duas seitas de filósofos: os "cépticos", que são os que "continuam a investigar", e os "dogmáticos", os que acham ter descoberta a verdade. O mais ilustre da primeira escola seria Sócrates, aquele que afirmou: "não sei nada; a única coisa que sei é de não saber nada"; na segunda linha de pensamento poderíamos encaixar os criadores dos grandes sistemas filosóficos, Platão (→ Idealismo) e Aristóteles, (→ Realismo), além das escolas menores do Estoicismo (felicidade = virtude) e do Epicurismo (felicidade = prazer). Portanto, não é correto achar que o cepticismo seja uma corrente nihilista, que induza o homem ao nirvana. Apenas se opõe ao dogmatismo, às verdades acreditadas sem nenhum fundamento científico. O Ceptismo é uma doutrina essencialmente "fenomenológica", pois acredita que a única fonte de conhecimento é a experiência. Citando Diógenes Laércio, outro pensador céptico-empírico: "o fogo, que por essência queima, causa a cada um a representação de ser quente". No jogo das oposições, que acontece na alma humana, entre os fenômenos (as aparências) e os nôumenos (as substâncias abstratas), o ceticismo se inclina para o conhecimento empírico. Contra qualquer forma de dogmatismo, os céticos apresentam cinco argumentos: 1) a discordância (entre os estudiosos de um assunto); 2) a regressão ao infinito (qualquer prova remete sempre a outra prova); 3) a relação (um conhecimento implica num outro, não existindo nenhuma certeza absoluta); 4) a hipótese (para escapar do regresso ao infinito, os dogmáticos colocam um postulado indemonstrável); 5) o círculo vicioso (o falso silogismo que leva ao engano: o homem é um animal // Sócrates é um homem // logo, Sócrates é um animal). O Ceticismo teve seguidores na Renascença e na Idade Moderna. Leonardo da Vinci disse que "nada nos engana tanto como a nossa própria opinião". O mais ilustre foi o pensador francês Michel E. de Montaigne (1533–1592), que criou o gênero literário do "ensaio" para expressar seu pensamento filosófico. Em seus Essais, discorre sobre as contradições inerentes à própria natureza humana, chegando à conclusão de que é impossível encontrar a verdade e a justiça. Suas profundas reflexões, que o tornaram imortal, são elementos combinados de Estoicismo, Ceticismo e Epicurismo, que levaram o pensador francês à concepção de um Humanismo, que se aproxima do moderno Existencialismo. Algumas afirmações de Montaigne passaram a povoar o ideário popular:

Seria melhor não ter lei alguma do que ter tantas leis quantas temos...
Proibir é despertar o desejo...
Quem quiser se curar da ignorância precisa confessá-la...
Vamos deixar a natureza seguir seu caminho; ela entende do negócio melhor que nós...