Dicionário de Cultura Básica/Sócrates
SÓCRATES (filósofo grego, o pai da sabedoria) → Método → Filosofia
"Eu não sei nada:
a única coisa que sei
é de não saber nada"
O primeiro grande pensador da cultura ocidental não deixou nenhum escrito, pois achava que o saber só podia ser transmitido pelo diálogo, sob a forma de perguntas e respostas entre mestre e discípulos. As notícias sobre sua vida são indiretas, colhidas através dos escritos do comediógrafo Aristófanes, do seu discípulo Platão e do historiador Xenofonte. Filho do escultor Sofronisco e da parteira Fenareta, viveu em Atenas (→ Grécia), entre 470 e 399, seguindo uma linha de pensamento um pouco diferente de outros sofistas. O oráculo da pitonisa de Delfos que dizia ser Sócrates o mais sábio dos homens o deixou intrigado. Até, depois de muito refletir, chegar à conclusão de que ele era sábio porque "sabia de não saber nada": era o começo da autognose: "conhece-te a ti mesmo"! Este sentimento de "ignorância", perante a vastidão do mundo a ser conhecido, é comum a todos os homens verdadeiramente sábios. O pai da pintura moderna, Pablo Picasso, quase em fim de vida, disse: "Agora sei a metade das coisas que julgava saber aos 18 anos". Assim, Sócrates descobriu sua missão: fazer o homem tomar consciência de sua ignorância. Para tanto, ele inventou um método que tinha duas fases: a fase da ironia, em que Sócrates, afirmando que nada sabia, obrigava o interlocutor a expor suas idéias e habilmente o emaranhava em suas próprias afirmativas, levando-o a reconhecer sua ignorância sobre as coisas, que antes julgava conhecer com certeza; a fase da maiêutica, que significa "parteira", a profissão da mãe do filósofo. Como sua progenitora ajudava a extrair um bebê do útero de uma mulher, assim Sócrates fazia com que a verdade que estava em cada um viesse à luz da consciência.
O conhecimento, que Sócrates identifica com a areté (virtude), não é a doxa (opinião), a verdade relativa dos sofistas, mas a episteme (ciência), que tem o seu fundamento na autoconsciência. Assim, o filósofo coloca em dúvida os valores morais e as crendices, os preconceitos religiosos e sociais que orientavam a conduta dos indivíduos e que serviam como alicerce das instituições políticas. Por causa deste seu pensamento revolucionário foi acusado de corruptor da juventude e condenado pelo Tribunal de Atenas a tomar a cicuta. Sua figura de sábio, vítima da intolerância ideológica, está até hoje presente na nossa cultura filosófica e artística, toda vez que se tenta substituir a crendice do mito pela razão dialética. Sua sabedoria não deixou de lado o aspecto prático da existência cotidiana. Suportou a vida toda a burrice e a intolerância da esposa Xantipa, sem reclamar nunca. Diz-se que sua mulher, incomodada com a extrema paciência do filósofo, um dia, pela janela, despejou o conteúdo do urinol na cabeça do marido. Sócrates olhou para cima e, tranqüilamente, exclamou: "Tanto trovejou até que choveu!". Leia-se o conselho que deu a um seu discípulo, que o indagava sobre a conveniência do matrimônio:
"De qualquer modo, o casamento vale a pena:
se conseguir uma boa esposa, serás feliz;
se encontrar uma má, praticarás a paciência e serás filósofo,
o que é excelente para um homem."