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Dicionário de Cultura Básica/Dionísio

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DIONÍSIO (Baco romano; oposição apolíneo / dionisíaco) → Carnaval

Duplamente filho de Júpiter que o gerou, primeiro, na princesa texana Sêmele e, mais tarde, com a morte desta, continuou a gestação do feto numa sua coxa, Dionísio, mesmo antes de vir à luz, já estava marcado pela vingança da ciumenta Juno. Fruto híbrido de um amor divino-humano, não foi aceito no Olimpo e precisou conquistar o direito à imortalidade por suas próprias forças. Errou pelo mundo até então conhecido e conseguiu o caminho da glória pela descoberta da uva e do vinho. Tocando flautas ou tamborins, acompanhado pelo cortejo de sátiros, bacantes (mênades), centauros e pelos deuses Sileno e Pã, Dionísio propiciava aos homens e aos deuses alegria e felicidade. Enquanto durava o estado de embriaguez, seus devotos sentiam a presença do deus do vinho dentro de si e se deixavam levar pelos ritos orgíacos, entrando em transe histérico. Dionísio sempre foi considerado pelos gregos como um deus "estrangeiro" e "subversivo", pois ele personificava a desobediência à ordem e à medida, a vida do instinto, a liberdade e o prazer sem limites, a inversão dos valores sociais: fora ele que destronara Héstia, a deusa do lar, e lhe ocupara o lugar perto de Júpiter. Além disso, desposou e levou para o Olimpo uma mortal, Ariadne, filha do rei Minos, abandonada por Teseu na ilha de Naxos. Entre seus triunfos, notável é a conquista da Índia, dominando o povo pelo seu poder místico. Daí Camões ter escolhido Baco como o maior inimigo mítico da expedição lusitana à Índia: se não fosse o Destino (→ Fado), Dionísio nunca deixaria que os portugueses, embora descendentes de seu filho Luso, ofuscassem a glória de seus feitos e substituíssem o culto a Baco pela fé cristã. O espírito dionisíaco encontrou sua primeira manifestação artística no coro ditirâmbico que, segundo a maioria dos estudiosos da literatura grega, foi o embrião da tragédia antiga. Era um coro de pessoas "transformadas" que, na embriaguez do estado dionisíaco, punham de lado a máscara social e manifestavam sua verdadeira personalidade. Nos momentos de excitação orgíaca, esquecido de seu status, o homem sentia-se membro de uma comunidade universal em que se quebravam as barreiras de classes. Pela consecução do estado místico, o homem divinizava-se, o escravo emancipava-se, a crueldade tornava-se prazer, o grotesco misturava-se ao sublime. Este espírito dionisíaco, vivido também nas saturnálias romanas, persiste em todas as manifestações de festas carnavalescas na cultura ocidental (→ Carnaval). O mito de Dionísio invadiu Literatura e Artes, ao longo da nossa história. A obra do filósofo-poeta alemão F. Nietzsche está toda ela impregnada do espírito báquico, ele mesmo definindo-se um "demônio dionisíaco". Duas de suas obras são fundamentais para entendermos a importância do mito de Baco na evolução do pensamento e da arte européia: A Origem da Tragédia e Assim falou Zaratustra. Desta última obra transcrevemos dois trechos, onde o poeta exalta a dança e a embriaguez dionisíacas:

Elevem seus corações, meus irmãos! Elevem cada vez mais!
E não se esqueçam das pernas! Elevem as pernas também,
vocês que dançam bem e cada vez melhor; fiquem de pé,
até mesmo de cabeça para baixo!...
Essa coroa de risos, essa coroa de rosas,
eu vos lanço, meus irmãos! Eu santifiquei o riso;
vós, homens superiores, aprendei, portanto, a rir!