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Dicionário de Cultura Básica/Galileu

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GALILEU (cientista e artista do Renascimento italiano)

"Eppur si muove"

Galileo Galilei (1564–1642), junto com Michelangelo e Leonardo da Vinci, forma a tríade genial da Renascença italiana (→ Renascimento). Além de escritor, foi matemático, físico e astrônomo. Ele foi sucessor do astrólogo polonês Nicolau Copérnico (1473–1543), que deu nome ao novo sistema astronômico, e predecessor do físico inglês Isaac Newton (1642–1727), que reconheceu a dívida aos dois cientistas, afirmando: "se consegui enxergar mais longe, é porque procurei ver acima dos ombros dos gigantes". Galileu descobriu as leis do pêndulo e da queda dos corpos, antecipando a formulação do princípio gravitacional e da atração terrestre. Construiu um poderoso telescópio, pelo qual observava a composição estelar da Via Láctea e do planeta Vênus , concordando plenamente com a teoria heliocêntrica de Copérnico. Tornou públicas suas descobertas através de algumas obras importantes: Mensageiro das estrelas, 1610; Experimentador, 1623; Diálogo sobre os grandes sistemas do universo, 1632; Teorias e provas matemáticas sobre duas novas ciências, 1934: esta é sua obra mais importante, conhecida pelo título sintético I Discorsi ("Os Discursos"). Acusado perante o Tribunal da Inquisição, por ensinar que era a Terra a mover-se ao redor do Sol, teoria considerada herética naquela época, foi condenado à prisão domiciliar. Narra-se que Galileu recebera a ordem judicial, estando na Catedral de Pisa. Ao render-se, teria exclamado: Eppur si muove ("No entanto, se move"), pensando na Terra, mas olhando , para disfarçar, o candelabro que oscilava no alto. Em 1982, o Papa João Paulo II, com 360 anos de atraso, retirou as acusações de heresia feitas pela Inquisição contra Galileu, reconhecendo a importância histórica do gênio pisano, que revolucionou o pensamento científico e filosófico, contestando as teorias aristotélicas, o sistema sideral ptolemaico baseado na fixidez da Terra e outras crenças sem embasamento científico. Por esta nova postura, o experimento e a formulação matemática do resultado da experiência passaram a ser os fundamentos das ciências exatas. Seu pensamento crítico, polêmico, irônico às vezes, é posto em evidência na peça A Vida de Galileu pelo dramaturgo alemão Bertold Brecht. O sentido mais evidente desta peça é a representação do problema do conflito do intelectual no seio da sociedade em que vive. Para a exploração deste tema Brecht recorre à pessoa histórica de Galileu Galilei, pois o passado nos ajuda a compreender o presente. O protagonista não é apresentado como um herói, mas como um ser comum, embora dotado de uma invejável inteligência: ele gosta de comer bem, aspira a ser rico, tem medo de sofrer quando vê os instrumentos de tortura e renega suas convicções científicas para salvar a pele. Portanto, não há nenhuma idealização, como acontece com o herói épico e trágico da literatura clássica. Mas, apesar da fragilidade física e psíquica de Galileu, Brecht nos faz perguntar se é justo que um cientista tenha que sofrer por ter descoberto uma verdade cósmica. Isso só acontece num sistema social em que a ciência não tem autonomia, sendo regida por um estatuto de filiação religiosa ou política. O papel do teatro, segundo Brecht, não é apenas apontar os costumes falsos e degradados, mas estimular o público a lutar pela mudança do status quo, pois o processo dialético que leva ao melhoramento cívico não é obra de um indivíduo, mas da coletividade. Talvez a passagem, que resume a obra toda, seja este diálogo entre os dois personagens principais:

André Sarti: "Desgraçado o país que não tem heróis"

Galileu: "Desgraçado o país que necessita de heróis"