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História do Brasil (Frei Vicente do Salvador)/IV/I

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Como a Majestade de el-rei Filipe Segundo de Castela, e Primeiro de Portugal, foi jurado nele por rei no fim do ano de mil quinhentos e oitenta, sabendo da morte do governador do Brasil Lourenço da Veiga, mandou por governador Manuel Teles Barreto, irmão de Antônio Moniz Barreto, que foi governador da Índia; era de 60 anos de idade, e não só era velho nela, mas também de Portugal o Velho; a todos falava por vós, ainda que fosse ao bispo, mas caía-lhe em graça, a qual não têm os velhos todos.

Tanto que chegou a esta Bahia, que foi no ano de mil quinhentos oitenta e dois, escreveu a todas as capitanias que conhecessem a Sua Majestade por seu rei, e foi de importância este aviso, porque daí a poucos dias chegaram três naus francesas ao Rio de Janeiro, e surgiram junto ao baluarte, que está no porto da cidade, dizendo que iam com uma carta de d. Antônio para o capitão Salvador Corrêa de Sá, o qual nesta ocasião era ido ao sertão fazer guerra ao gentio; mas o administrador Bartolomeu Simões Pereira, que havia ficado governando em seu lugar, e estava informado da verdade pela carta do governador geral, lhes respondeu que se fossem embora, porque já sabia quem era seu rei; e porque a cidade estava sem gente, e não havia mais nela que os moços estudantes, e alguns velhos, que não puderam ir à guerra do sertão, destes fez uma companhia, e d. Ignez de Souza, mulher de Salvador Corrêa de Sá, fez outra de mulheres com seus chapéus nas cabeças, arcos e flechas nas mãos, com o que, e com o mandarem tocar muitas caixas, e fazer muitos fogos de noite pela praia, fizeram imaginar aos franceses que era gente para defender a cidade, e assim a cabo de dez ou doze dias levantaram as âncoras, e se foram.

No mesmo tempo foram dois galeões de ingleses, de 300 toneladas cada um, à capitania de S. Vicente com intento de povoar, e fortificar-se por relação de um inglês, que se havia ali casado, das minas de ouro, e outros metais, que há naquela terra, e publicavam que el-rei católico era morto, e d. Antônio tinha o reino de Portugal, oferecendo da parte da rainha de Inglaterra grandes coisas. Porém os portugueses, pela carta que tinham estiveram mui firmes por el-rei católico, sem querer admitir aos ingleses, os quais ameaçavam de entrar por força, e realmente o fizeram, se naquela conjunção não chegaram três naus de castelhanos, que começaram a pelejar com eles, os quais logo bateram estandarte, pedindo paz, que os castelhanos lhes não deram, antes jogaram a artilharia toda a noite, porque pelas correntes não os puderam abordar.

Ao outro dia, ainda que deixaram uma nau tão maltratada que se foi ao fundo, desampararam a empresa, e saíram do porto mui maltratadas, sem antenas, e as naus furadas por muitas partes, e mais de 50 homens mortos, e 14 feridos. Entraram as naus castelhanas no porto, sendo bem recebidas dos portugueses, que rogavam mil bens a Sua Majestade, pois / ainda que acaso / tão presto os começava a defender.

O caso como ali foram aquelas naus se contará no capítulo seguinte.