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História do Brasil (Frei Vicente do Salvador)/V/XXXII

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Também / e ainda antes das duas estâncias sobreditas / fizeram as suas d. Manuel de Menezes, e d. João Fajardo à parte de S. Bento, em um morro junto ao mar, sobre a ribeira que chamam de Gabriel Soares, donde fizeram muito dano com cinco peças de artilharia não só aos navios holandeses, e às fortalezas da praia, que toda dali se descobria, mas também a algumas da cidade.

Entre esta estância, e a de S. Bento fez também o marquês de Torrecusa, mestre de campo do terço dos napolitanos, os quais ainda que ficavam bem fronteiros à porta da cidade, e tão perto dela, que não só com a artilharia grossa, mas com a miúda podiam fazer dano, desejosos / parece / de virem às mãos com cólera de italianos, foram fazendo uma cava, com que chegaram ao pé do muro. Estas sete estâncias, que estão ditas nestes três capítulos, são donde se fez bateria à cidade, sem se deixar de ouvir estrondo de bombardas, esmerilhões, e mosquetes de parte a parte, um quarto de hora, de dia nem de noite, em 23 dias que durou o cerco, e eram tantos os pelouros pelo ar, que milagrosamente escapavam as pessoas assim nas casas, como nas ruas, e caminhos; nem faltou curioso que contasse, e diz que foram as balas grossas que os inimigos tiraram 2.510, e as que os nossos lhe tiraram 4.168. O qual para que melhor se entenda porei aqui a descrição da cidade, e sítio das fortalezas, donde se tirava de dentro, e de fora dela, que é a seguinte.

Bem entenderam por estas vésperas os inimigos qual seria a festa quando os nossos entrassem na cidade, e com este receio se começaram já os franceses a dividir dos holandeses determinando fugir para os nossos, da qual ocasião se quis aproveitar também um soldado português indiático, que os holandeses haviam tomado vinda de Angola, e se havia alistada com soldo, entrando, e saindo com eles da guarda, o qual sabendo a determinação dos franceses se concertou com quatro para pôr fogo à pólvora, e alegando este serviço, que não era pequeno, alcançar perdão da vida, porém um o descobriu ao coronel, o qual mandou logo prender, e enforcar o português, e um dos franceses, que os outros dois lhe fugiram para os nossos; pela que mandou o coronel lançar bando pelas ruas, a som de dez ou doze tambores, que todo o que soubesse de outro, que quisesse fugir, e lho fosse denunciar lhe daria quatrocentos cruzados, e daí avante se teve muita vigia sabre os franceses na poste que faziam.