Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 10
com uma canôa de indigenas
O capitão do nosso bote pediu ao homem que mandasse aprestar uma canôa com gente de remo, afim de que um de nós fosse ao navio levar noticia do acontecido; estavamos fóra tres dias e era tempo de dar conta aos outros do fim que levaramos.
Fui eu o indicado para essa missão e parti com os indigenas.
Quando cheguei á vista da nau fizeram de bordo grande alarido, pondo-se em defesa; não queriam que a canôa se approximasse e gritaram-me perguntando como vinha eu só numa piroga cheia de selvagens.
Calei-me e fingi tristeza, pois o capitão ordenara-me que assim o fizesse para ver como se comportavam os de bordo. O meu silencio e a minha tristeza embaraçaram-nos. Puzeram-se a murmurar que havia alli qualquer coisa, que de certo os demais tripulantes do bote tinham sido trucidados e vinham aquelles selvagens com um só para armar cilada ao navio. Firmados nisso fizeram menção de atirar contra a canôa.
Comecei então a rir-me e gritei-lhes que socegassem, pois trazia boas novas. Só então permittiram que a canôa abordasse o navio. Contei o que se havia passado e despedi os selvagens, que regressaram sozinhos.
O navio seguiu pela bahia a dentro até defronte ás cabanas, onde fundeou, ficando á espera dos dois outros de que se havia separado por occasião da tempestade.
A aldeia daquelles selvagens chamava-se Cutia e o homem que morava entre elles, João Ferdinando, natural de Bilbáo, na Biscaia. Os indigenas eram Carijós e amigos; trouxeram-nos muita caça e peixe, recebendo em troca anzóes.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.