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Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 16

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CAPITULO XVI
De como os Portuguezes reconstruiram
o fortim da bertioga e construiram
outro na ilha de Santo Amaro

Depois disto as autoridades e o povo verificaram a conveniencia de não ser abandonado aquelle ponto estrategico, precioso para a defesa do territorio de S. Vicente, e cuidaram de o fortificar de novo.

Quando os tupinambás perceberam que a Bertioga lhes offerecia grandes difficuldades para um ataque, ladearam-na e vieram sobre S. Vicente. Os moradores, fiados na defesa do forte, foram colhidos de surpreza e aprisionados. Em vista disso foi levantado outro forte, com guarnição e canhões, ao pé dagua e bem de fronte á Bertioga, em ponto que impedisse a passagem dos inimigos. Já haviam, quando eu cheguei, começado a construcção desse forte, mas estava ella interrompida por falta de um artilheiro portuguez que se arriscasse a ficar alli.

Fui visitar esse porto. Quando aos moradores constou que eu era allemão e conhecedor de artilharia, propuzeram-me ficar no forte; davam-me companheiros e um bom soldo, além de ganhar eu a estima de El-Rei, sempre generoso para com os que nas terras novas o ajudavam com seu conselhos e esforço.

Acceitei a proposta e contratei-me por quatro mezes, até que El-Rei mandasse um official e fizesse erguer um forte de pedra, de maior segurança.

Fui para o forte e lá vivi todo o tempo com mais tres companheiros. Tinha algumas peças commigo, mas vivia em perigo sob a ameaça dos selvagens porque o forte não era seguro. Mantinhamo-nos álerta todas as noite, para evitar surprezas, e de facto as evitamos por varias vezes.

Os moradores tinham escripto a sua majetade contando de como era bella a terra e do mal que lhes faziam os indigenas e aguardavam providencias. Depois de alguns mezes chegou o official d'El-Rei , coronel Thomé de Souza.

Contaram-lhe dos meus serviços e minha ousadia em ficar num forte mal defendido, onde nenhum portuguez quizera permanecer. Louvou-me elle o procedimento e prometteu, se o céu lhe permittisse regressar ao reino, falar de mim a El-Rei, com o que muito haveria eu de aproveitar.

Como acabasse o meu contracto de quatro mezes, o coronel pediu-me que o renovasse por mais tempo. Accedi e fiquei por mais dois annos, findos os quaes deviam deixar-me seguir para Portugal pelo primeiro navio. Recebi de Thomé de Souza as minhas privilegia, que é de de costume darem-se aos artilheiros reaes que as pedem. Construiu-se o forte de pedra, com mais alguns canhões, e fiquei no governo da casa e das armas.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.