O Livro de Esopo/O cervo e os seus galhos

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XXXIII. [O cervo e os seus galhos]

[P]om este poeta este emxemplo, e diz que estamdo hũu çeruo bebendo em hũa fomte muy clara, vio os sseus cornos que lhe pareçiam muy fremosos, e tomaua por ende grande prazer e uãa gloria; er esguardou espelhamdo-sse na fomte e vio os sseus pees que eram muy delguados e ffeos, e tomou gram nojo. E estando-sse assy /[Fl. 24-r.] espelhamdo naquela ffomte, vieram os caçadores com muytos cãaes. E o çeruo, quamdo os vio, começou de ffugir, e rrogaua aas pernas que o ajudassem, e ellas o ajudauam quanto podiam; em tall guisa o ajudarom, que escapou dos caçadores. Assy que sseemdo o çeruo escapado, deu gram louuor aas pernas;[1] brasfamou muyto os cornos que lhe dauam grande estorua quando ffugia.




Queremdo-nos este poeta amostrar, pom este emxemplo ssuso dicto, e diz que nós nom deuemos despreçar aquelas cousas que nos ssom proueytosas, posto que ffeas sseiam; nem deuemos louuar as cousas que nom ssom proueytosos, posto que ffremosas sseiam: mas deuemos amar mays as cousas que nos ssom proueytosas, ajmda que ffeas ssejam, que as fremosas que nom proueytam.

Notas[editar]

  1. Provavelmente aqui falta e.