O Livro de Esopo/O lobo que accusa a raposa perante o bogio
[P]om este poeta emxemplo e diz que o lobo acusou a rraposa d’auamte o bogio: que lhe deuia muytos dinheiros[1]. A rraposa sse escusaua quanto podia. Veemdo o bogio a escusa da rraposa, conhoçeo que o lobo a demamdaua e acusaua ssem rrazom, e disse ao lobo:
— Tu demandas o que nom deues comtra rrazom, e tu mereçes pena.
Ho lobo sse partio comfuso, e o bugio começou a olhar a rraposa e escusá-la, dizemdo que era jnocente do que ho lobo a acusava.
[Fl. 17-v.]Per este emxemplo este poeta rreprehemde aquelles que demandam algũa cousa a sseu proximo contra rrazom. E diz que aqueles que ssom compridos de maliçias, e husam ssempre em ellas, nom as podem de ssy tirar; e aquell que he huseiro e[2] a fazer e uiuer com emganos, ssempre deseia d’enganar aquell que póde; e quando emgana algem, todo sse gloria no sseu maao fazer.