Obras Poéticas de Glauceste Satúrnio/Advertência preliminar do segundo tomo
O segundo tomo das Obras Poeticas de Claudio Manoel da Gosta, comprende: o restante da edição de 1768 que não coube no primeiro tomo (Cançonetas, Cantatas e Romances), as poesias ineditas que só avulsa e fragmentariamente appareceram em revistas ou collectaneas e anthologias, nomeadamente na Collecçâo de poesias ineditas (Lisboa, 1810) na Revista do Instituto Histórico, tomo LIII (Rio de Janeiro) e na maior parte pela primeira vez na Revista Brasileira, tomo II (Rio de Janeiro, 1895) editadas pelo doutor B. F. Ramiz Galvão; o poema Villa Rica, impresso em 1839-41 e reimpresso em 1897. Tanto o Villa Rica como as poesias ineditas constituem a obra postuma do poeta, a qual é visivelmente inferior ao que publicou em vida.
Ao preparar esta edição, guardamos quanto possivel toda a fidelidade ás fontes e aos originaes que serviam á reimpressão, mas com algumas raras restricções que passamos a declarar.
Deixamos intactos todos os versos que nos pareceram maus pela ausência de ritmo ou por outro qualquer defeito que não se pode attribuir necessariamente aos copistas. Taes por exemplo no poema de Villa Rica os versos:
A farda militar, cingia-lhe o lado
Talvez da fé que guardo attento.
Mais cada um a aviso ao heroe dando
Não hesitamos, porem, em corrigir o texto quando o erro não podia ser imputado ao auctor.
Assim, substituimos:
Que só valor europeu com pouco ou nada
por
Só valor europeu etc.
Da mesma sorte, substituimos:
Tudo quanto entre os Farias se medita
por este outro:
Tudo que entre... etc.
No mesmo canto ha o pretendido verso:
Cedas ao teu Rei: se aos olhos estais crendo
Não é possivel que Cláudio Manoel da Costa escrevesse endecasyllabos de tal feitio; n’esses casos, felizmente não numerosos, corrigimos as edições anteriores calcadas sobre copias imperfeitas, procurando, porem, conservar o mais possivel o texto qual se nos offerecia mesmo com o visivel erro.
Assim, em vez de
E sonora trompa já se ouvia
Escrevemos
E sonorosa trompa já se ouvia
Sem querer diminuir o valor que é grande do serviço prestado, pelas duas edições do Villa Rica, é util dizer que podiam ser feitas com maior esmero e cuidado. No Canto V falta um verso depois do que começa: — Mais escravos... — e não é o unico exemplo. A conta de versos quebrados e indignos do poeta, é assaz numerosa e na maior parte esses defeitos são pequenos lapsos que a primeira vista se denunciam e se corrigem.
As notas ao poema de Villa Rica são do proprio punho de Cláudio Manoel da Costa que para escrevel-as utilizou-se de excellentes materiaes nos archivos da Capitania e em apontamentos que lhe deram mineiros e paulistas de consideração, como Tacques, Paes Leme, etc. Não obstante, os erros de historia são ahi frequentes e alguns inevitaveis n’aquella sua epoca, sobre tudo quanto á historia geral do Brasil.
Julgamos que não sendo as notas de nossa auctoria, nada nos cumpria corrigir nem alterar, até porque assim mesmo é que serviam e servem ae justificativa á narração do descobrimento das minas como nol-o representa o poeta em seus versos.
No Fundamento historico o poeta revela-nos a existencia de um poema nacional muito anterior ao Uraguay que é de 1769. O poema de Diogo Grasson Tinoco sobre o descobrimento das esmeraldas por Fernão Dias Paes, e cujo titulo não sabemos precisamente, foi composto no anno de 1689. Perdeu-se esta epopea em estancias de oitava rima, a qual não parece inferior ao poema de Claudio ; as oitavas citadas e conservadas no Fundamento historico cotejadas com as de S. Rita Durão que são da mesma especie, também não ficariam envergonhadas do paralelo.