Dicionário de Cultura Básica/Hitler

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HITLER (nazismo, holocausto, racismo, eugenia, etnia) → Nietzsche

Quanto maior a mentira,
maior a chance de todos acreditarem nela.

De origem austríaca, Adolf Hitler (1889–1945), filho de um fiscal de alfândega, pintor e cabo na I Guerra Mundial, eleito Chanceler da Alemanha em 1933, no ano seguinte tornou-se presidente do Reich. Conquistou a simpatia popular por pôr em prática um ambicioso plano de recuperação econômica, alimentando o ódio nacional contra marxistas, judeus e negros. Em 1936, durante as Olimpíadas (→ Olimpo) de Berlim, Hitler se negou a entregar a medalha de ouro ao corredor norte-americano Jesse Owens, por ser negro. Gorou, então, o intento nazista de demonstrar, por aquela competição mundial, a tese, erroneamente atribuída ao pensamento de Nietzsche, da superioridade da raça ariana! Apoiado por industriais e banqueiros, montou uma poderosa máquina bélica e, em 1939, invadiu a Polônia, dando início à II Guerra Mundial (→ Marte). Cometeu suicídio em 1945, quando viu Berlim arrasada pelos Aliados. Neste mesmo ano, apareceu o horror do "Holocausto": as tropas americanas, ao chegarem ao campo de concentração de Buchenwald, encontraram os restos das câmaras de gás, onde se calculam que foram mortos, aproximadamente, uns seis milhões de judeus. Estes, junto com ciganos de várias nacionalidades, foram vítimas do processo de "limpeza étnica", promovido por Adolf Hitler, ao longo de mais uma década (de 1933 a 1945).

Etnia, do grego ethnos, que significa "raça", indica qualquer agrupamento humano com estrutura familiar, econômica e social homogênea, cuja unidade repousa numa comunidade de língua, de costumes e de religião. Mas, hoje em dia, por grupo étnico se entende uma minoria que vive numa sociedade culturalmente diferente. Assim falamos de raça ou de etnia negra com referência aos africanos e descendentes que vivem fora de seu continente ou de etnia judaica com relação aos hebreus que vivem longe do Estado de Israel (→ Abraão). A luta pela coexistência pacífica de várias etnias numa mesma nação e pela igualdade racial é bem antiga, remontando aos Impérios da Era Antiga (assírio, macedônico, romano), que costumavam tratar como escravos os povos por eles subjugados. Lembramos o personagem histórico Espártaco (→ Escravidão), camponês da Trácia, escravizado pelo exército de Roma e vendido como gladiador. Ele liderou a revolta dos escravos, formando um exército de quase cem mil homens no Sul da Itália, sendo derrotado pelo triúnviro Crasso, em 71 a.C. No mundo moderno, tornou-se mundialmente famosa a figura do pastor negro norte-americano Martin Luther King (1929–1968) que, inspirado na figura pacifista do indiano Gandhi (→ Hinduísmo), dedicou sua vida à luta desarmada pelos direitos civis dos negros nos EUA. Ele condenou não apenas a discriminação, mas também o silêncio: "você não é responsável apenas pelo que você diz, mas também pelo que não diz". Ao liderar mais uma campanha pela integração racial, foi barbaramente assassinado, em Memphis, no estado do Tenessee, em 4 de abril de 1968. Mas sua luta não foi em vão: os negros conseguiram todos os Direitos Civis, inclusive de Voto; Martim Lutero King foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz de 1964 e o dia da sua morte foi consagrado como Feriado Nacional nos USA. Outro negro ilustre foi Nelson Mandela que, após 27 anos de prisão política, conseguiu acabar com a apartheid na África do Sul, em 1993. Mas o sentimento vergonhoso do racismo humano não se dirige apenas contra judeus e negros. Em1999, finalmente, acabou a "guerra étnica" na antiga Iugoslávia: por decisão da ONU, aviões da Otan bombardearam Belgrado e outras regiões da Sérvia, com o objetivo de acabar com a "limpeza étnica" contra os muçulmanos de origem albanesa que habitam a província do Kosovo. Os sérvios tinham expulsado um milhar de muçulmanos, empurrando-os para as fronteiras com a Albânia, Montenegro e Macedônia. No ano seguinte, o presidente-ditador Slobodan Milosevic foi afastado do poder e acusado por crimes contra a humanidade.

Como se pode ver, Hitler não foi o único nem o primeiro governante insano! Num livro recente, A Guerra contra os fracos, o jornalista Edwin Black demonstra que os Estados Unidos foram pioneiros no racismo científico, que conduziria ao holocausto europeu. A própria palavra "eugenia" (do grego eu = bem + gene = nascido) foi cunhada (na Inglaterra e não na Alemanha!) por um primo de Darwin, Francis Galton, no fim do séc. XIX, que acreditava na hereditariedade do talento. Seu intento era implementar uma eugenia positiva, que estimulasse os mais talentosos a cruzar entre si. Já os norte-americanos eram a favor de uma eugenia negativa, impedindo a reprodução de seres supostamente considerados inferiores. O biólogo puritano Charles Davenport, tido como o papa da eugenia, em 1904, montara um laboratório experimental em Cold Spring Harbor (Long Island) para pesquisas genéticas e coletâneas de dados sobre linhagens humanas, tentando descobrir padrões hereditários que explicassem a origem de deformações físicas, degradações morais, instintos criminosos e condições de miséria. E o pior foi que a tese da eugenia saiu do campo científico e se infiltrou na sociedade americana, estimulando a prática da esterilização compulsória de mulheres e de homens considerados nocivos para a sociedade. Famoso foi o caso de Carrie Buck, mãe solteira de 18 anos, cuja condenação à esterilização foi ratificada pela Suprema Corte dos USA, em 1927, justificada pela qualificação genérica de "débil mental". O autor Edwin Black calcula que, até o fim da década de 70, quando a prática foi proibida, foram esterilizados cerca de 60.000 norte-americanos. Hoje em dia, após os estudos avançados sobre o genoma humano (→ Genética), não faz mais sentido falar de superioridade racial. A ciência demonstrou que as discrepâncias de DNA entre etnias diferentes são irrelevantes: dois suecos podem ser menos parecidos geneticamente entre si do que um negro e outro sueco. Portanto, as diferenças que possam existir entre vários grupos sociais são de origem educacional e não genética. Antes do avanço da ciência biológica, um ilustre brasileiro chegara a esta conclusão pela pesquisa sociológica. Gilberto Freyre, em 1984, afirmara: "A descriminação contra o negro é uma discriminação contra homens que não foram educados para ser cidadãos brasileiros". O judeu Albert Einstein, que sentiu na carne a problemática do preconceito étnico, definiu o nacionalismo como "uma doença infantil, o sarampo da humanidade".