Dicionário de Cultura Básica/Escravidão

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ESCRAVIDÃO (discriminação, racismo, eugenia, etnia) → Hitler.

A palavra "escravo" deriva do grego bizantino sklábos, que significa "eslavo", povo da Europa oriental, passando pelo latim medieval sclavus, indicando um ser humano que vive num estado de absoluta servidão. A origem da escravidão se perde nos tempos, sendo a primeira forma de sociedade dividida entre dominados e dominadores. Historicamente, sinais de trabalhos escravos se encontram entre os hebreus e nas dinastias faraônicas do Egito Antigo. Mas foi na Grécia que se generalizou o uso de escravos, pela separação entre propriedade pública e propriedade privada. Foi, porém, com a expansão do domínio romano, a partir do séc. III a.C. que tomou corpo a sociedade escravizada: como resultado das conquistas bélicas, soldados e povos vencidos foram submetidos ao regime de servidão gratuita. E foi na Sicília, região da Magna Grécia dominada por Roma, onde se deu a primeira revolta de escravos. A façanha de Espártaco passou à história. Camponês da Trácia, escravizado e obrigado a lutar como gladiador, no ano de 73 a.C., se revoltou contra a prepotência romana, liderando um exército de quase cem mil escravos que desejavam a liberdade. Foi derrotado, mas sua figura se tornou motivo de arte literária, escultural e cinematográfica. Na Idade Média, pelo regime predominantemente agrário do Feudalismo e pelo isolamento da Europa ocidental (→ Medievalismo), a escravatura foi substituída pela servidão. No Renascimento, com as grandes navegações e os descobrimentos de novos mundos, começou o tráfico de africanos para serem escravizados no continente americano. O estudioso Eric Williams (Capitalismo e Escravidão) fala de um "comércio triangular": as metrópoles européias forneciam artigos manufaturados (armas, tecidos, bijuterias), que eram trocados na África por escravos que, por sua vez, eram trocados, nas plantações americanas, por produtos coloniais (açúcar, cacau, café) consumidos na Europa. Este comércio triangular fomentava a indústria, que fomentava o comércio. A Grã-Bretanha, onde o nascente capitalismo industrial se chocava com a concorrência da mão-de-obra escrava, tomou a frente do movimento abolicionista, condenando o tráfico de seres humanos no Congresso de Viena (1815). Nos Estados Unidos da América do Norte, a Abolição provocou a Guerra de Secessão, que terminou em 1865, vencida pelos abolicionistas. No Brasil-Colônia, a Coroa de Portugal autorizava cada senhor de engenho a importar até 120 escravos por ano, permitindo no máximo 50 chicotada por dia, como castigo de escravos revoltosos ou preguiçosos. A reação levou à formação de "quilombos", redutos de escravos fugitivos. O mais importante foi o de Palmares, no atual estado de Alagoas, que durou um século, formado por quase vinte mil habitantes, chefiados pelo negro Zumbi, assassinado por jagunços, em 1695. A Abolição dos escravos foi proclamada no Brasil em 13 de maio de 1888, mas práticas escravistas, embora ilegais, continuam ainda hoje em várias regiões rurais. O sistema escravagista marcou de uma forma indelével parte do povo brasileiro: desde a Abolição, os descendentes dos escravos ficaram nas camadas mais humildes da nossa sociedade. Infelizmente, escravidão se confunde com miséria e negritude. A raça negra ainda é tratada como "minoria" subdesenvolvida em algumas culturas ocidentais (→ Hitler).