Dicionário de Cultura Básica/Leopardi
LEOPARDI (poeta lírico italiano) → Romantismo
Giacomo Leopardi (1798–1837) é o maior poeta romântico italiano e um dos melhores líricos de Literatura ocidental. De família nobre — tinha o título de "conde" — Leopardi foi educado na severa disciplina dos estudos clássicos (autores gregos e latinos, Dante e Petrarca). Um defeito físico — era meio corcunda — e o precário estado de saúde o mantiveram, por boa parte de sua breve vida, recluso na vasta biblioteca paterna da residência de Recanati, cidade da Itália central. Morreu em Nápoles, vítima de uma epidemia de cólera. A produção lírica de Leopardi está contida num volume chamado Canti (Cantos), onde se encontram os poemas mais famosos: L’infinito, A Silvia, Le ricordanze, Il sabato del villaggio, La ginestra, Il tramonto della Luna. O seu pensamento reflexivo está expresso em duas obras em prosa: Zibaldone (coletânea de correspondências e de escritos vários) e Operette morali, onde se encontra mais ou menos sistematizada a sua filosofia da infelicidade humana, que pode ser sintetizada na expressão "a infinita inutilidade de todas as coisas", que corresponde ao bíblico Vanitas vanitatum ("Vaidade das vaidades": tudo é vaidade, pois nada leva a nada; no fim, o que nos resta é a morte!). O profundo pessimismo contido nas obras teóricas e poéticas do grande escritor italiano é provocado pelo sentimento da "noia", do tédio, do desgosto, do vazio existencial. Uma série de fatores — a educação intransigente e preconceituosa, a deformidade e a doença física, a observação dos absurdos da vida em sociedade — provocam no seu espírito convicções negativas que ele sublimiza em obras de alta poesia, cujo conteúdo pode ser assim sintetizado: é próprio da natureza humana ser infeliz; quanto o homem mais tiver um espírito lúcido e um sentimento nobre, mais é destinado a sofrer; a natureza cósmica é insensível à dor humana; tudo é ilusão: as honrarias são inúteis e passageiras; o que mais se aproxima da felicidade é a inconsciência; a morte é o fim de todo o sofrimento. Vamos ver, pela leitura de um poema, como um destes temas é expresso artisticamente. Eis a tradução da lírica mais famosa de Leopardi, L’infinito, feita pelo poeta e crítico Haroldo de Campos, que considera Giacomo Leopardi um teórico precursor da Vanguarda européia. Neste breve canto, o poeta italiano exprime o palpitar da imensidade, imaginada como um oceano misterioso onde a alma pensante encontra repouso e onde o tempo se traduz no espaço e este naquele. Enfim, trata-se de um fragmento de pura poesia, mais fácil de ser sentida do que explicada:
"A mim sempre foi cara esta colina
deserta e a sebe que de tantos lados
exclui o olhar do último horizonte.
Mas sentado e mirando, intermináveis
espaços longe dela e sobre-humanos
silêncios, e quietude a mais profunda,
eu no pensar me finjo; onde por pouco
não se apavora o coração. E o vento
ouço nas plantas como rufla, e aquele
infinito silêncio a esta voz
vou comparando: e me recordo o eterno,
e as mortas estações, e esta presente
e viva, e o seu rumor. E assim que nesta
imensidade afogo o pensamento:
e o meu naufrágio é doce neste mar.".