Dicionário de Cultura Básica/Lingüística
LINGÜÍSTICA (a ciência da linguagem: Saussure) → Metáfora → Retórica
Todo sistema que serve para a comunicação humana
pode ser considerado uma "linguagem",
sendo a língua de um povo o mais completo sistema semiótico
Por linguagem (idioma ou língua) entende-se um conjunto de signos regidos por regras de combinação e apto a expressar um modelo do mundo, uma visão ideológica da existência. Entre os vários critérios, criados pelo homem para comunicar idéias, sentimentos, normas de vida (línguas naturais, artes, mitos, modas, códigos de trânsito, qualquer prática social, enfim), existe uma hierarquia de importância, sendo que a língua natural deve ser considerada como "o sistema modelizante primário" (Lotman), quer porque é o primeiro código de signos que o homem aprende a usar para se comunicar, quer porque o sistema lingüístico é a base para a construção de qualquer outro sistema semiótico. É incontestável o fato de que, se um povo não tiver uma língua bem desenvolvida, todas suas atividades artísticas e científicas são prejudicadas. Haja vista o período da Alta Idade Média (do séc. V ao XI → Medievalismo), quando a Europa viveu em completo obscurantismo: a causa primordial da decadência cultural, social e econômica foi a falta de línguas nacionais, pois os povos ibéricos, franceses, italianos, entre outros, falavam dialetos regionais que não eram escritos e a língua escrita oficial, o latim vulgar, só era entendido por poucos privilegiados das duas classes dominantes: clero e nobreza. Somente quando alguns dialetos locais começaram a produzir textos escritos, a cultura começou a se desenvolver e surgiram as várias nacionalidades européias. A partir do Duzentos, o Renascimento das artes, da filosofia e das ciências teve como causa fundamental o desenvolvimento de línguas na Itália, na França, na Inglaterra, na Alemanha, na Romênia, na Península Ibérica: foram os textos escritos que provocaram o progresso artístico, científico e filosófico.
Mas o estudo científico das línguas naturais começou bem mais tarde, com o surgimento da área de conhecimento chamada de "Lingüística", a partir do séc. XIX, quando tomaram corpo as pesquisas sobre as mudanças lingüísticas que ocorriam nos idiomas nacionais, no tempo e no espaço, passando-se a considerar a língua humana como um fenômeno em contínua evolução. O método era comparativo e a preocupação dos estudiosos vertia quase exclusivamente sobre as transformações das formas fonéticas e lexicais, dando ênfase à tradicional lingüística diacrônica. A "estrutura" de um língua, quer dizer a análise de seus componentes internos (fonema, morfema, lexema, semema etc. e a correlação entre eles para a construção de uma frase no plano sintagmático), começou a ser estudada por Ferdinand de Saussure, considerado o pai da ciência lingüística moderna, no início do séc. XX. Nascia, assim, a chamada lingüística sincrônica ou estrutural. Saussure fez escola e dele procederam as mais recentes correntes lingüísticas: a glossemática (Hjelmslev), a funcional (Martinet, Jakobson e a escola de Praga), a distribucional (Bloomfield e a escola norte-americana), a gerativa (Chomsky), entre outras. A importância do avanço dos estudos lingüísticos transcende o campo da compreensão dos idiomas, pois criou conceitos e modelos de análise de que se beneficiaram também outras áreas de conhecimento: estrutura do texto, teoria da literatura, psicologia, antropologia estrutural, culturas indígenas etc. Entre as contribuições mais importantes, assinalamos vários planos de análise de um texto ou de um objeto: a distinção entre langue (língua) e parole (palavra); significante e significado; sincronia e diacronia; denotação e conotação; semiótica e semântica; forma e estrutura; metonímico (contigüidade) e metafórico; (similaridade); eufórico e disfórico; anafórico e catafórico; sintagma e paradigma. Ver, também, os verbetes Metáfora, Retórica, Método.