Dicionário de Cultura Básica/Sísifo
SÍSIFO (o mito do esforço exagerado, da superação da morte)
Conforme uma versão do mito, Sísifo seria pai de Ulisses, o mais astuto dos heróis gregos. O semema da inteligência aguda distinguiria também o velho Sísifo. Ele fez chantagem com o pai da bela Egina, quando descobriu que a moça fora seduzida por Júpiter. Como castigo, Zeus lhe enviou a Morte (→ Tânatos), mas Sísifo a venceu, aprisionando-a. Durante algum tempo, nenhuma pessoa morreu na face da terra. Enfim, obrigado a morrer pela vontade divina, mandou que sua mulher não soterrasse seu corpo. Chegado ao Inferno, pediu licença para voltar à terra e castigar a esposa pelo pretenso ato de impiedade. O deus Plutão foi na conversa: deixou livre Sísifo, que prometera retornar, mas não o fez. Hermes foi busca-lo outra vez, condenado a rolar uma enorme pedra por uma escarpa. Cada vez que atingia o cume, a rocha caía, obrigando Sísifo a recomeçar o trabalho, infinitamente. A figura lendária de Sísifo está ligada à cidade grega de Corinto. Nas ruínas da antiga Éfira, o nome primitivo de Corinto, onde teria nascido e reinado Sísifo, encontram-se, ainda hoje, enormes blocos de mármore, que compõem o chamado Sisypheion. Os recifes estão na abrupta colina de Acrocorinto e uma interpretação possível sugere que o mito estaria relacionado com a profissão de Sísifo, engenheiro e construtor. A lenda das pedras que rolam seria uma tentativa de explicação da dificuldade de carregar rochas no cume da colina. Outros mitólogos acham que Sísifo foi castigado por cometer, como outros heróis míticos (Titãs, Prometeu, Adão) o pecado da híbris, o orgulho, a revolta contra a divindade, o desejo de ultrapassar os limites impostos, querendo carregar uma pedra maior do que a condição humana lhe permitia. Afinal, ele foi o único mortal capaz de vencer a morte, embora fosse por pouco tempo! O mal de Sísifo acometeria todas os homens que querem operar façanhas acima de suas forças. Este mito inspirou várias obras artísticas. Na Literatura, a mais famosa é o romance O Mito de Sísifo (1941), de Camus, onde o herói é transfigurado, apresentando o tema do desafio lúcido do homem que, em face de uma incriminação injusta, recusa qualquer ajuda sobrenatural, lutando para superar suas limitações.